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terça-feira, 5 de março de 2019

Porto vs Benfica – Isto anda tudo ligado

"Indo ao encontro do que já aqui foi escrito sobre o clássico existem, quanto a mim, 3 aspectos fundamentais na vitória do Benfica no Dragão : a dificuldade que os médios do Porto tiveram, demasiadas vezes, em controlar a entrada da bola nas suas costas, (quer em organização quer em transição defensiva) a forma como o Benfica defendeu no seu último terço, e a transição ofensiva dos encarnados, uma vez que a questão defensiva está intimamente relacionada com a forma como se ataca.
O primeiro lance de perigo do Benfica, logo no segundo minuto, denunciava o espaço entre sectores e o facto de nem sempre os médios do Porto baixarem quando ficavam atrás da linha da bola.
No lance abaixo, aparece Pizzi na cara de Casillas com o Porto a não priorizar o fecho do corredor central. Nota para Herrera que, tal como Oliver, por várias vezes foi ultrapassado ao longo do jogo.


Na conferência de imprensa, Bruno Lage afirmou esperar que a pressão do Porto encaixasse nos médios do Benfica, daí ter procurado outras soluções para sair. A construção em zonas recuadas ficou marcada pelo jogo longo de Vlachodimos, no entanto, nas tentativas de ligar de outra forma, existiu procura dos dois alas bem por dentro. Referência para Pizzi que apesar de estar como ala direito, se junta em alguns momentos ao corredor central ou à esquerda para receber a bola nas costas de Herrera e Oliver.
Abaixo, Pizzi recebe já no corredor esquerdo com Herrera, Corona e Adrian batidos e somente 5 jogadores do adversário atrás da linha da bola (mais Brahimi do outro lado, ainda que afastado). A bola vai à largura e no momento que volta dentro o Benfica tem 3 jogadores entre linhas que poderiam dar seguimento ao lance, no entanto, uma indefinição faz a defesa portista recuperar bola e lançar ataque rápido.
Se há lance que espelha tanto a abordagem de jogo do Benfica como dificuldades do Porto é o golo de Rafa. Benfica começa a circula bola no meio-campo contrário, passe vertical para Pizzi, que dentro do bloco portista dá a um toque para trás. Corona sai na pressão, é ultrapassado e há espaço no meio para jogar. Bola à largura, volta para dentro e o momento decisivo dá-se quando Grimaldo procura dar na profundidade, Filipe corta mas bola sobra para Rafa entre linhas. 3 jogadores do Porto ficam passivos e Rafa tem espaço e tempo para tabelar com Pizzi e conduzir até finalizar em boas condições, somente com 4 jogadores adversários atrás da linha da bola.


O Benfica conseguiu também tirar proveito da transição ofensiva intimamente ligada à forma como defendem. à forma como defendem. A linha defensiva sempre muito preocupada com os movimentos de ruptura dos avançados portistas ia recuando de forma organizada, acompanhada sempre pelos dois médios. No entanto, e à vez, nem sempre Pizzi e Rafa baixavam da linha da bola o que os transforma em referências importantes para sair da pressão. , até porque Oliver e Herrera continuavam a pressionar, quando a sua equipa perdia a bola e era fundamental fazer a bola chegar às suas costas. 
No lance abaixo é Rafa quem fica para trás após perda de bola. O Benfica com apenas com 6 jogadores em processo defensivo recupera então a posse de bola. Rúben Dias, quando Oliver sai de posição para o pressionar, entrega em Rafa com um passe vertical, com muito espaço e tempo para definir com a ajuda dos dois da frente. Segunda bola também para o Benfica, momento em que os movimentos de ruptura sem bola de Felix e Seferovic são fundamentais para arrastar adversários e progredir.


Oportunidade do Benfica em transição no final da 1ª parte. Recuperação de bola, Pizzi é pressionado por Oliver mas tem apoio de Samaris que faz passe vertical para Felix e se concretiza num Benfica novamente em vantagem entre linhas, com tempo e espaço.
Duas notas dignas de ressalva: a utilização de Seferovic à profundidade, para empurrar os defesas do Porto, e o posicionamento de Herrera. Nesta última e com Oliver ultrapassado, o mexicano não se colocou entre a bola e a baliza para retardar progressão, mas sim entre dois adversários que se encontravam lado a lado.Como resultado,a bola entra no apoio frontal e aumenta mais ainda o espaço para jogar.
Fechar linhas de passe com a orientação do corpo é aquilo que qualquer equipa que goste de pressionar faz, mas neste jogo, em várias situações de desvantagem numérica não se percebe esta opção dos jogadores portistas, quando o mais prudente seria tentar temporizar o ataque contrário, ainda para mais quando o Benfica é conhecido por ter sempre apoios verticais para fazer a bola andar.  

A excelência do Benfica a defender perto da sua baliza, mesmo com poucos jogadores, dava para todo um outro post. Nestas circunstâncias a equipa só sentiu realmente dificuldades a jogar com 10, até porque demorou um pouco a responder à colocação de mais gente na frente por parte do Porto, concedendo algumas situações em igualdade numérica dentro de área, e por consequência, uma ou outra ocasião. Na minha opinião, a entrada de Corchia foi um pouco tardia. Na medida em que, o Benfica não estava a conseguir sair em transição o francês poderia ter ido a jogo mais cedo, Valeu também alguma falta de discernimento do Porto na fase final do jogo.
Equipas fortes em transição ofensiva normalmente deixam jogadores mais adiantados para servir como elo de ligação. O Benfica não é excepção. Nos últimos 15 minutos da primeira parte quando cada ataque do Porto demorou mais tempo, os benfiquistas sentiram a necessidade de baixar não só os alas como os avançados, e nessas circunstâncias não conseguiram sair com perigo. Foi o melhor período do Porto. Isto anda tudo ligado.
Na segunda parte, e já com o Benfica em vantagem, é possível ver como a equipa de Bruno Lage defende com qualidade já a pensar em como irá atacar.


É possível que a equipa de Lage enfrente outro tipo de desafios e veremos aí como reage. Arriscará defender tantas vezes com poucos jogadores atrás da linha da bola frente aos fortes adversários com que se poderá deparar na Liga Europa? Quando em transição os apoios verticais (de alas e avançados) não funcionarem e os médios forem condicionados na construção, o que irá o Benfica fazer? Quando defendeu com todos a transição ofensiva perdeu-se. Lage fala na necessidade constante de reinventar, e cá estaremos para ver a evolução do Benfica. No Dragão apareceu com um plano bem delineado, corajoso (quando o Porto fazia subir os laterais muitas vezes eram Grimaldo e André Almeida que saiam à pressão, ficando os centrais com os avançados no meio) e que expôs o Porto utilizando aquilo em que é muito forte: os apoios frontais. Como consequência, a espaços, impediu os duelos que o Porto tanto gosta. Num jogo equilibrado, ganhou a equipa que mais vezes se sentiu confortável com o desenrolar do jogo."

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