"Marcou primeiro golo do Benfica ao FC Porto para o campeonato; Azar do Sporting, não lhe dar emprego...
1. O primeiro golo do Benfica ao FC Porto para o campeonato foi ele que o marcou - a 3 de Fevereiro de 1935, no Estádio do Lima que portistas usavam para os grandes desafios porque o seu Campo da Constituição era bem mais acanhado e não tinha relva. Marcou-o ao minuto 62 a Soares dos Reis (que se treinava, às vezes, apanhando coelhos vivos e em tarde de invernia chegara a ir de guarda-chuva para a baliza...)
2. Esse seu primeiro golo ao FC Porto não deu para evitar a derrota no jogo (por 2-1) nem no campeonato - e o DL contou-o assim: «Pina, sempre activo, lançou-o em corrida e ele, com boa direcção, fez golo ao seu jeito». (Pina, o Álvaro Pina, fizera, em 1933, jogos particulares pelo Benfica, jogando pelo Barreirense o Campeonato de Lisboa, trabalhava nas minas do Lousal e ao deixar o futebol, no Barreirense, outra vez, nas minas continuou a trabalhar).
3. Ele, o marcador desse primeiro golo do Benfica ao FC Porto, história fez em muitos. Fora dele o primeiro do Benfica no campeonato, marcara-o ao V. Setúbal - só estava no Benfica porque o Sporting falhara promessa que lhe fizera não muito antes.
4. Tendo nascido nas Minas de São Domingos, começara a jogar futebol no Luso Sporting Clube de Beja. Aos 19 anos apareceu à aventura em Lisboa, a oferecer-se ao Sporting, clube do seu coração. Bastou um treino para que Athur John se encantasse com ele, o pusesse a logo na primeira equipa.
5. Para ficar no Sporting pediu só um emprego. Como tardaram a arranjar-lho, certo dia, arrumou a trouxa e, desencantado, apanhou a camioneta de volta a Beja. Esteve largos meses sem jogar, sentiu saudades, foi matá-las para o Sport Lisboa e Beja. Lá andava quando Ribeiro dos Reis o desafiou para o Benfica. Acordou-se darem-lhe 750 escudos por mês «para melhor tratar da alimentação e da saúde» (750 escudos seriam hoje cerca de 700 euros - e nesse tempo jantar de luxo na Casa Imperium ficava por 18 escudos).
6. Ao Benfica exigiu o que já exigira ao Sporting: «emprego de futuro». Sabendo o que sucedera dois anos antes, Vasco Ribeiro, o seu presidente, não perdeu tempo a colocá-lo como funcionário no Governo Civil. O seu primeiro jogo com Vítor Gonçalves (o pai do Vasco Gonçalves do PREC) a treinador foi para o Campeonato de Lisboa, a 14 de Outubro de 1934 - contra o Sporting. Foi no desafio em que o sportinguista Faustino falhou um penálti e a sua repetição no mesmo minuto e o Benfica venceu por 3-2 - e não marcou nenhum golo. O primeiro ao Sporting marcou-o na segunda volta - depois de falhar uma grande penalidade, o bastante para o Benfica perder o jogo por 2-1 (e o Campeonato de Lisboa para os sportinguistas).
7. Não tardou, porém, a refinar-se, no campo, imagem que de si se criou, alto e possante, com pé esquerdo notável, remate violento, capaz de arrancadas pelo flanco esquerdo que deixavam os adversários em desconcerto e os seus adeptos em frenesins. Fora de campo jogava sempre com o coração. Conta-se que, uma vez, vendo Azevedo, o guarda-redes do Sporting, a defender de forma espantosa um seu remate, bateu-lhe palmas e correu para ele a cumprimentá-lo num abraço.
8. Na tarde de 26 de Abril de 1936, o guarda-redes do Sporting poderia ter sido o Athur Dyson, não foi. Também poderia ter sido Jaguaré, o exótico brasileiro que Oliveira Duarte fora buscar ao Corinthians (depois de já ter passado pelo Barcelona e espantado Lisboa por defender como nunca antes se vira: de luvas nas mãos) e também não foi, Joseph Szabo apostou, com surpresa, em João Azevedo que para lá fora do Barreirense - e esse era jogo que podia fazer do Benfica campeão ou não. Sim, o Benfica ganhou-o por 3-1. Graças ao seu hat-trick ficou a equipa de Vítor Gonçalves virtual campeã. Na última jornada podia até perder no Bessa empatou 2-2 (e foi o primeiro campeonato da história da história do Benfica - e o FC Porto, que ganhara o anterior, só o perdeu por ter perdido nas Amoreiras por 5-1).
9. Quando, em meados de 1944, se despediu de jogador tinha no palmarés seis Campeonatos, um Campeonato de Portugal, três Taças de Portugal e um Campeonato de Lisboa (e mesmo não sendo avançado-centro em 263 jogos fizera 162 golos) - e logo Janos Biri o chamou para o seu adjunto..."
António Simões, in A Bola
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