"Assim como incluem cláusulas para os despedimentos prematuros, os contratos milionários de treinadores deveriam prever os insucessos desportivos.
José Mourinho foi despedido do Manchester United, como se previa há muito, recebendo uma indemnização milionária: 26 milhões de euros, ao que se diz.
É uma imoralidade.
Nunca discuti os salários de treinadores ou jogadores, que se regem pelas leis do mercado. Se os clubes pagam fortunas a Messi, Mbappé, Ronaldo, Klopp ou Mourinho, é porque têm a convicção de que vão ganhar com eles fortunas ainda mais volumosas – em marketing, receitas de jogos, novos associados, direitos televisivos, direitos de imagem, etc.
São investimentos que os clubes fazem. Claro que podem correr mal, mas isso acontece com todos os investimentos. Qualquer investimento envolve uma margem de risco. Nenhum investimento é seguro.
Mas o que se paga em indemnizações por despedimento não tem nenhum retorno – é dinheiro deitado à rua. Por isso falei em ‘imoralidade’. Há treinadores que enriqueceram não à custa dos seus êxitos mas à custa dos fracassos – que lhes valeram indemnizações milionárias. André Villas-Boas, por exemplo, acumulou uma fabulosa fortuna com indemnizações: no Chelsea, no Tottenham, no Zenit, até na China, em Shanghai.
Depois de uma grande época no FC Porto, que lhe valeu a ida para Inglaterra, Villas-Boas não ganhou praticamente nada. Mas esses fracassos, que resultaram em despedimentos prematuros, valeram-lhe rios de dinheiro em indemnizações.
Esta 'prática' resulta de leis que protegem os trabalhadores mas que não deviam aplicar-se no caso de salários milionários. É justo que um trabalhador que ganha o ordenado mínimo, ou um salário baixo, receba a quantia respeitante ao tempo que faltava para concluir o contrato de trabalho, se for despedido antes. E, mesmo assim, isso só deveria acontecer no caso de ficar desempregado até aí. Mas não faz qualquer sentido uma pessoa que ganha milhões, e à qual o dinheiro não faz falta, receber o salário até ao fim do contrato.
Ainda por cima, no caso de Mourinho – e na maior parte dos casos semelhantes –, o despedimento não resulta de um capricho, de uma malfeitoria do presidente do clube, mas sim dos maus resultados. Que, pelo menos em parte, são da responsabilidade do treinador.
Aliás, assim como os contratos incluem cláusulas para os despedimentos prematuros, deveriam prever os insucessos desportivos. Quando os treinadores não conseguissem alcançar resultados compatíveis com o prestígio do clube e a qualidade dos jogadores, o contrato deveria cessar automaticamente.
Não sendo assim, pode chegar-se à situação de um treinador que está descontente num clube ‘forçar’ os maus resultados -- para ser despedido e receber a choruda indemnização.
Acredito que não tenha sido este o caso de Mourinho. Mas, sendo notório que os resultados alcançados no Manchester United foram desastrosos, ele deveria ter sido o primeiro a assumir a responsabilidade e a pedir a demissão, renunciando – pelo menos parcialmente – à indemnização.
Aliás, o comportamento de Mourinho nos últimos tempos em Manchester foi muito duvidoso – e não só neste plano. As suas atitudes nas conferências de imprensa ou em campo, pontapeando garrafas, provocando os adeptos, criticando os jogadores, descarregando a fúria (ou a euforia) de um modo agressivo e indecoroso, não são aceitáveis.
Mourinho é um ídolo para muita gente, incluindo crianças e jovens. Ora, essa simples circunstância deveria levá-lo a ser um exemplo de conduta, a comportar-se dignamente e não como um arruaceiro.
Na liga inglesa há outro treinador muito histriónico – Jürgen Klopp – que lhe poderia servir de exemplo. Sendo um impulsivo, Klopp comporta-se com exuberância mas de uma forma correta: gesticula, leva as mãos à cabeça, pula, corre, ri-se, mas não dá pontapés nem murros e nas conferências de imprensa comporta-se como um cavalheiro, assumindo os erros e nunca agredindo os adversários. Mourinho podia pôr aí os olhos – não para o copiar mas para se refrear.
Além de sair de Manchester pela porta pequena, Mourinho sai como alguém que não reconheceu os erros, que ‘explorou’ o clube e que teve um comportamento pouco recomendável. Não havia necessidade…"
E os CEOs que por aí abundam, que levam empresas à falência e têm despedimentos dourados, merecerão o comentário do senhor?
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