"Passou por mim mais de uma dezena de vezes. Em passo acelerado, devagar com as mãos nos bolsos, a gesticular ou a gritar.
Quando pelas 17:30 do dia do jogo, Martin O´Boyle, Media Officer e VOBM da UEFA, no estádio me entregou os observer seats e a estrela autocolante que dá acesso à flash interview, estava longe de imaginar que iria dividir a atenção do jogo com o espectáculo particular do treinador da Juventus, Massimiliano Allegri.
Percebi que estava num ambiente de showbiz durante a reunião com as televisões detentoras de direitos da Champions na minúscula sala de conferências de Old Trafford.
Martin mostrou-se de início um verdadeiro entretainer. Apresentou os elementos que estavam com ele na mesa como se fossem artistas, pedindo aplausos às equipas de produção e aos representantes do Manchester United e da Juventus.
Quando tocou a falar a sério disse que a UEFA e os clubes estavam ali para ajudar mas quando chegasse a hora das entrevistas rápidas não fossem pedidos jogadores expulsos ou a quem o jogo tivesse corrido mal.
Depois de ter informado que uma câmara da transmissão do jogo tinha mudado de posição e de ter saudado a presença de uma televisão da Austrália, Martin terminou a reunião com um quiz dirigido à plateia. Canetas e pins da Champions League para as respostas corretas. Tudo como se estivéssemos num programa de entretenimento na televisão.
Os observer seats colocaram-me nas primeiras filas de Old Trafford ao nível do relvado, ao lado do banco da Juventus. Passei de um entretainer na sala de imprensa para uma peça com Massimiliano Allegri no Teatro dos Sonhos.
Foi assistir a um quase monólogo em que toda a gente o via mas poucos o ouviam. Berrou com o adjunto, que gritou para o campo. Berrou com um elemento do staff, estrategicamente colocado na primeira fila, que gritou para campo.
Caixas de ressonância mesmo ao meu lado e desabafos em tempo real.
Estão 76 mil pessoas no estádio, o ruído é tanto que os jogadores não ouvem nada. Allegri subiu e desceu as escadas de acesso ao banco vezes sem conta. Sempre com os mesmos lamentos, sempre sublinhados como o mesmo sonoro desabafo. «Santo Dio»."
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