"Não ficaria bem comigo próprio se me limitasse ao conformismo e passividade, perorando sobre o azar, a contingência, o dia não
1. Nunca percebi a charada das conferências de imprensa no futebol por tudo e por nada. Não me refiro tanto às que se seguem aos jogos, pois aí até há matéria para perguntar e para responder. Foco-me sobretudo nessas pasteladas aborrecidas e sem conteúdo que precedem os jogos, com direito a longos e sonolentos directos de 3 canais temáticos (Bola TV, Sport TV e canal do clube) e - imagine-se - de mais 4 canais noticiosos, ainda que cada vez mais se deva pôr a palavra noticiosos entre aspas (RTP 3, SIC N, TVI 24 e CMTV). Uma fartura para um zero de interesse. Do lado das perguntas, há-as de dois tipos: as absolutamente dispensáveis e sem qualquer sentido jornalístico e umas poucas que até poderiam ter interesse informativo (a equipa, as lesões, a táctica, etc.). Do lado das respostas, às primeiras responde-se na mesma moeda de coisa nenhuma num conjunto entediante de frases feitas, tautologias gastas e ligares-comuns. Às segundas, a resposta - evidentemente - é a expectável, ou seja, de nada revelar, como, aliás, o próprio perguntador já sabe de antemão.
Destas sessões o que, no fim, é noticiado e comentado é uma de três situações: picardia entre técnicos sempre sugerida e estimulada até o titular da conferência cair que nem um patinho; um lapso ou uma gafe que, ao virar da esquina de palavras sobre palavras, se cometa; o estilo mais grandiloquente de tontos mind games de quem já sabe que se disser isto ou aquilo tem parangona assegurada, que faz 'escola'.
Não creio que faça parte de contrato dos treinadores a obrigação de fazerem tais ditas conferências de imprensa a toda a hora, com mais tempo de antena e direito a fartas repetições que nenhum outro poder de outra qualquer natureza alguma vez atinge.
Ora, no passado fim-de-semana, e no caso do Benfica, que é o que verdadeiramente me interessa, Rui Vitória - como ele e os outros quase sempre - falou, falou, falou e pouco ou nada disse. Mas, no meio do deserto da temática da antecipação de um jogo, mordeu o isco lançado por jornalistas e lá foi ele falar, outra vez, do jogo de Amesterdão, reagindo algo enervado. Rui Vitória resolveu recorreu aos rácios para dizer que era ele quem tinha o melhor registo a nível europeu, não sei se por sua alta recreação, ou por informação de alguém da 'estrutura'. Além de não soar bem para quem se lembre ainda da campanha totalmente desastrosa da época passada, pôs-se a jeito para ser desmentido pelos media. Foi fatal: no dia seguinte, o do jogo de que supostamente foi falar, a comunicação social não largou mais a afirmação precipitada do técnico benfiquista. E, por arrasto, o minuto 92 da Arena Johan Cruyff voltou à cabeça da equipa e a derrota europeia (injusta, é certo) entrou no Estádio Nacional, no meio da ventania e da chuva.
Que diabo! Não será possível acabar com esta fantochada das conferências antes dos jogos? Não creio que sejam obrigatórias, como acontece com as flash interview depois das partidas. Bem sei que há aquelas imagens por trás com a publicidade à qual importa dar retorno, embora seja previsível que quem vê tais longos minutos não se lembre de nenhum desses logótipos ou coisas parecidas.
2. O jogo contra o Belenenses SAD foi ingloriamente desperdiçado. Os azuis do Restelo, perdão do Jamor, não tiveram culpa nenhuma. Jogaram com todas as suas armas possíveis, tiveram um guarda-redes com uma exibição soberba, e até não fizeram nenhum anti-jogo. Conseguiram o feito de derrotar o SLB 11 anos depois em jogo realizado em casa. Em casa, é um modo de dizer. Fora, verdadeiramente tanto ou mais do que para o Benfica, no Estádio Nacional onde só quase havia benfiquistas.
Uma derrota comprometedora e nada expectável. Poderia escrever quanto lamentei o desperdício e a falta de eficácia na primeira parte. Poderia falar do segundo golo do Belenenses precedido de uma falta clara nas barbas do árbitro e facilmente analisável pelo VAR. Poderia desculpar mais um penálti falhado que, se tivesse sido convertido, ditaria quase certamente uma vitória folgada do Benfica.
No jogo na Holanda, a equipa até teve uma boa primeira parte, desinibida, mas, uma vez mais, a desperdiçar golos de uma maneira algo amadora, acabando por perder pela oitava vez nos nove últimos jogos da frase de grupos europeia. E não esqueçamos que, nos principais jogos europeus desta época, contra o Bayern, o AEK e o Ajax, o melhor jogador foi sempre o guarda-redes Vlachodimos.
O certo é que nos dois últimos jogos - Ajax e Belenenses - não se podem desperdiçar tantas ocasiões de golo cantado. Uma equipa com jogadores, alguns deles pagos a peso de outro, tem de ser competente. De que servem boas jogadas e oportunidades (e até penáltis) se dão em nada. Se no futebol o resultado é o que vale e o que fica registado, a verdadeira medida da competência é meter a bola lá dentro. O resto são cantigas...
3. Procuro ser fiel a ma regra: a de apoiar os treinadores que o meu clube tem, procurando não contribuir para situações de precariedade e de deterioração das suas posições e não perdendo de vista que, no futebol, há contingências que a acção humana não controla.
Sei que sou apenas um mero e curioso 'treinador de bancada' que, apesar de tudo, procura não perder lucidez e o discernimento num momento de desalento e irritação por uma derrota como a de sábado passado. Mas, não ficaria bem comigo próprio, se hoje e aqui me limitasse ao conformismo e passividade, perorando sobre o azar, a contingência, o dia não, o poder-estar-dez-horas-a jogar-que-a bola-não-entraria-etc.
Até poderia ser que nada de diferente tivesse acontecido, com outras formas de abordar o jogo. Mas não compreendo que, com quatro pontas de lança (cuja folha mensal de salários excede largamente a folha anual de todo o plantel do Belenenses!), se vá para este jogo apenas com um deles, num 4-3-3 timorato, para não dizer medroso, tal como contra o... Sertanense. Não compreendo que Zivkovic não tenha entrado na última meia-hora em Amesterdão quando começou a faltar bola nos pés da equipa e a recorrente distância entre linhas se alargou. Não compreendo como um menino como João Félix nem sequer para o banco de suplentes tenha ido nestes dois jogos. Não compreendo como, a perder por 2-0, se tira um flanqueador em vez de um lateral. Não compreendo o motivo por que se faz uma substituição aos 84 minutos (!) num jogo já perdido, à espera não sei de quê. Não compreendo como se tirar Pizzi para fazer entrar mais tosco calmeirão para a grande área, assim deixando de se jogar pelos dois flancos e nem se quer se passar a fazer jogo directo. Não compreendo a razão por que não entrou Cervi com o resultado em 2-0 e mantivemos os dois laterais sempre em jogo. Assim sendo, o Benfica que tem sempre jogado com um só ponta-de-lança acabou com uma fartura de três (até parece que só não entrou Ferreyra porque não estava no banco), só que sem jogo e jogadores (à excepção de Rafa) para lhes fazer chegar a bola em melhores condições. Custa-me também compreender que, com um plantel tão rico, não haja ninguém que chute fora da área, hoje uma das maneiras mais eficazes de fazer golos em determinadas circunstâncias das partidas.
Talvez esteja errado. Talvez renha sido só um pesadelo meu. Na próxima sexta-feira haverá mais uma conferência de imprensa, excitante como sempre. Já adivinho o remédio para o meu pesadelo: dir-se-á, então, que o jogo contra o Belenenses já está esquecido, que estamos focados na vitória, que entraremos no nosso Estádio com toda a vontade para retomar o caminho das vitórias, que não pensaremos no jogo seguinte contra o Ajax, mais blá, blá, blá e, como de costume em todos os nossos técnicos, que o clube oponente da ocasião pratica bom futebol, que não vai ser um jogo fácil, que estamos de sobreaviso, etc., etc.,seja contra o Bayern, o Barcelona, o Moreirense, o Sertanense ou o Carcavelinhos.
Vai-me custar a 'engolir' esta derrota e a incapacidade para ficarmos isolados na liderança. O que vale é que, nesta paixão do futebol, resiste dentro de mim o sonho do mistério e a esperança do crente.
4. Uma última nota, referente às transmissões televisivas que nos 'oferecem' para ver o Benfica. Há cinco 'ofertantes': a BTV, para os jogos da Liga na Luz; a RTP em jogos da Taça de Portugal; a TVI em jogos da Taça da Liga (e alguns da Champions); a Sport TV nos jogos da Liga fora de casa e a Eleven na Champions. Se o Benfica passar para a Lig Europa, temos um sexto interveniente: a SIC. Imaginemos, então, a factura de um fervoroso sócio que não quer perder nenhum jogo: paga a quota do clube, para o lugar do Red Pass, paga para ver a BTV, para para ver a Sport TV e paga se quiser ver todos os jogos do SLB na Liga dos Campeões! Uma verdadeira fartura! Ainda dizem que o futebol é o desporto do povo!"
Bagão Félix, in A Bola
A revista «Four Four Two» escolheu os melhores treinadores e entre os portugueses Leonardo Jardim foi o melhor classificado, visto que está no 12.º posto, num «ranking» que é liderado pelo espanhol Pep Guardiola (Manchester City).
ResponderEliminarPara além de Leonardo Jardim, depois surge Paulo Fonseca (22.º posto), José Mourinho (25.º), Sérgio Conceição (33.º) e Abel Ferreira (44.º).
Nesta ranking não está o treinador do Benfica, Rui Vitória.
Para informação da estrutura e dos defensores da escolha do Presidente.
E então?
EliminarO Presidente tem que escolher por catálogo para escolher bem?
O que fez o boneco Conceição? Ganhou um campeonato completamente adulterado. Esta época está em 1° graças ao VAR e arbitragens ao estilo (penúltimo jogo foi lindo).
Abel Ferreira, bom treinador, mas o que fez???
P. Fonseca - liga ucraniana sem concorrência, ao estilo do Olimpiakos da Grécia.
Leonardo ganhou um campeonato francês. Esta época...
Mourinho é o Mourinho. O que anda a fazer no MU e antes no RM e Chelsea???
Rui Vitória- 2 campeonatos seguidosentre outros títulos.
Com essa conversa só o taliban come, tente ser mais criativo.
Van Helsing
E do 2° ao 11° não deu jeito dizer quem são?
EliminarRamalhete, ramalhete, sempre a fazer as delícias de quem come gelados com a testa.
Não seja modesto caro Helsing, Rui Vitória conseguiu muito mais. Conseguiu oferecer o dito campeonanto ao boneco Conceição, conseguiu o pior registo de sempre de qualquer equipa na Champions, com a cereja de lhe juntar a pior humilhação da equipa. Ainda no registo europeu tem o pior registo de qualquer equipa portuguesa em competições da UEFA (7 derrotas consecutivas).
EliminarEu nem vou, como poderia, falar da qualidade exibicional. Vamos só falar dos recordes que RV bateu e que convem não esquecer. Só para não ser por catálogo...
Robocop Picareta
Pois, se calhar foi o Rui Vitória que ofereceu o campeonato ao boneco Conceição.
EliminarFoi ele qur arranjou umas eachas no Estoril, pagou cerca de 800mil Euros a esses clube que teve o jogo mais longo da história (passou de 1-0 para 1-3), que fez passes fantásticos como o de Sulley jogador do Tondela, do Dalcio (Belenenses) que passe, VAR, cacetada de Filipe vale tudo sem punição, 1 penalti contra o porto numa época inteira, etc,etc.
Não sou modesto, vejo apenas o que se passou.
Espero que RV se mantenha pelo menos até 2920 com muitas vitórias para azar dos robocops e companhia.
Van Helsing
Desculpe, as gralhas, mas escrever com pressa dá nisto.
EliminarVan Helsing
O que é que no, "Ganhou um campeonato completamente adulterado. Esta época está em 1° graças ao VAR e arbitragens ao estilo (penúltimo jogo foi lindo)", não percebem?
EliminarAgora a culpa do Apito Dourado 2.0 é do Rui Vitória.
E o que me interessa o que diz a Four Four Two?
A Four Three Three diz que RV é o melhor treinador português a nível europeu a aproveitar jogadores a seguir ao Leonardo Jardim.