"Pequenino, já andava por balneários e campos do pai (em espanto); Depois imitou Simão (até na cor das botas
1. Jogando pelo Almodôvar e pelo Castrense. Vítor Jacob, o pai, espalhou golos pelo Alentejo. De pequenino, ele desatou a dar nas vistas - por andar sempre à beira do pai, dos balneários aos campos, de bola no pé, deliciante.
2. Aos seis anos apareceu a jogar pelo Almodôvar «com os miúdos mais velhos». A cada dia que passava, mais se lhe percebiam os pés em flor - e o sonho que o espicaçava: ser jogador do Benfica. Como o FC Ferreiras era filial do Benfica - para lá se mudou aos 10 anos (e para ir aos treinos tinha de fazer 70 quilómetros para o campo, 70 quilómetros para casa).
3. Também se percebeu num ápice: o FC Ferreiras já não cabia no talento que ele espalhava por onde andasse - e o Benfica desafiou-o para o Seixal. Começou por ter Simão Sabrosa a iluminar-lhe o futuro - dizia-se que gostava tanto dele que não lhe imitava apenas os jeitos e os gestos - imitava-lhe até a cor das botas.
4. Ao fascínio pelo Simão, logo juntou outro (mais empolgante): Cristiano Ronaldo. Tornou-se o seu modelo por jogar como jogava (a dar ideia de estar para além da humanidade), mas não apenas «procurei segui-lo pelo seu exemplo no trabalho, no crer, na ambição». (Também adorava Di Maria - e outros encantos acrescentaria ao rol - do Gaitán ao Hazard).
5. Pelo Seixal, sempre que podia punha-se à espreita do treino dos A - e aos seus jogadores pedia-lhes autógrafos. «Chegaram a dar-me várias chuteiras e camisolas». Isso revelou-o em entrevista ao Correio do Alentejo, quando andava pelos 15 anos - e acabara de viver as suas primeiras glórias: ao título de campeão de iniciados, juntou o de melhor marcador, com 37 golos: «O mais especial foi aquele que marquei em Alcochete quando ganhámos 1-0 ao Sporting». (Pelo caminho abriu-se-lhe a selecção de sub-15. Pelas selecções, não deixaria mais de andar - e vários outros títulos foi conquistando pelo Benfica, entretanto).
6. Se lhe pedissem que levantasse o véu ao sonho, a resposta não variava: « jogar pela equipa principal do Benfica, o clube do meu coração». Oito dias após fazer 18 anos, esteve 20 minutos em campo pela equipa B, contra a Oliveirense - e pela equipa B fez o primeiro golo no mês seguinte.
7. Destaque especial no L'Equipe mereceu nos 11-1 do Benfica ao Galatasaray para a Youth League e não só pelos três golos que marcou nos 64 minutos que esteve em campo. No Europeu de sub-19 (em que Portugal foi afastado da final pelo França de Mbappé), a UEFA considerou-o um dos seus 10 craques: «rápido a pensar e a executar, a ameaça constante a todos os adversários, desencadeando contra-ataques de forma lúcida e inteligente, sempre a desmentir a idade que na verdade tem».
8. Pelo Benfica B se foi soltando em mais fulgores -e a 9 de Agosto de 2017 o sonho tornou-se-lhe realidade: Rui Vitória pô-lo a jogar na vitória por 3-1 frente ao Braga. Mais emocionante ainda o que aconteceu a 18 de Outubro: foi titular contra o Manchester United, para a Champions. (Já com a camisola 7, o número de Ronaldo não me pesa nada» - o seu golaço ao Uruguai no Mundial de sub-20 levou até a que Peixe, o seleccionador, atirasse, deslumbrado, as mãos à cabeça - mas o destino dos penalties, acabou por ser-lhe cruel, Portugal ficou-se pelos quartos).
9. Luís Filipe Vieira, ao renovar-lhe contrato, colocara-lhe a cláusula de rescisão em 35 milhões - e tendo a tapar-lhe o caminho, o Cervi e o Zivkovic, no arranque desta época, o Benfica emprestou-o ao Nottingham Forest. (Se quiserem ficar com ele terão de pagar 15 milhões de euros - e no contrato de empréstimo não deixou de se colocar, à cautela, «cláusula anti-rivais» de mais 5 milhões em caso de passagem para o FC Porto ou o Sporting).
10. Terça-feira, no Funchal, no apuramento para o Europeu sub-21, no golo que marcou à Bósnia, num embasbacante bailado por entre cinco adversários (e um túnel até ao Jota antes do disparo letal...) o que se lhe viu foi o Maradona (o Maradona daqueles imortais golos contra a Bélgica e a Inglaterra no Mundial da Mão de Deus...) a entrar-lhe sublime pelo pé (e a dar no que deu: um fogacho mais de história)."
António Simões, in A Bola
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