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domingo, 6 de maio de 2018

O regresso de uma antiga FIFA?

"Introdução prévia: sugiro que vejam um importante documentário na RTP3, “A Família do Futebol: Uma História de Amor”, da autoria de Niels Borchert Holm, transmitido no dia 1 de Maio (terça-feira) a partir da 1h40m.
Para além de ajudar a entender os gravíssimos riscos que o futebol corre, traduzido numa frase desse documento - “ A Família da FIFA é como «Os Sopranos» mas com pessoas piores”- , assim se pode melhor compreender como junto de inúmeras personalidades de renome mundial se procurava alicerçar, por todos os meios, “o futebol como o maior negócio do mundo”, palavras de Sepp Blatter, então Presidente da FIFA (1998-2015), bem como o papel desempenhado por Chuck Blazer, membro do Comité executivo da FIFA de 1996 a 2013.
Tragédias não desejáveis e tão destrutivas devem ser evitadas com firmeza e coragem.
Vamos agora à actualidade!
O presidente da Associação das Ligas Europeias afirmou recentemente que os planos da FIFA, lhe fazem lembrar uma “forma de actuar da «antiga FIFA»”.
Para isso, apresentou argumentos como “inexistência de consulta e transparência e uma manipulação intencional por parte da FIFA” para um plano de 12 anos, cheio de incertezas e sem suporte para uma informação clara e certamente muito problemática.
Concluiu solicitando apoio a diversas instituições internacionais do futebol para “parar esta iniciativa lateral da FIFA”.
Todos recordamos o final do mandato de Sepp Blatter, os casos de corrupção, as demissões e prisões, a suspeição de negociatas para escolha de locais para mundiais e uma eventual relação com compra de milhões em aviões para ajudar a decidir com ”eficácia lucrativa”.
Umas das primeiras questões prende-se com o actual estado dos processos e mecanismos democráticos. Também aqui o populismo avança com sérios riscos.
Quem elege, por vezes opta por “acordos” que o beneficiam e quem é eleito acha-se no direito de fazer o que lhe “der na gana”, porque poder absoluto, nem que seja a prazo (normalmente com mandatos sucessivos onde a prioridade é impedir o contraditório).
Assim nascem mais pequenos ditadores que se julgam acima da mortalidade, com proveito de poderosos, mesmo que ao serviço de “Donos” mais globais.
Os mais pequenos alimentam sempre a vontade de serem maiores e de alargarem as suas influências, num mecanismo imparável quanto ilusório.
O futebol-jogo, o desporto em geral, atravessa momento conturbado que exige atenção vigilante (o descontrolo financeiro poderá ter consequências drásticas).
As decisões de Gianni Infantino, atual Presidente da FIFA , merecem reflexão à luz de um contexto preciso, até pelo apoio prestado por uma equipa eleitoral onde se incluíram diversos portugueses.
Os candidatos, os acontecimentos inesperados, os abandonos de candidaturas que prometeram ir até ao fim para defender o futebol e lhe devolver o que ele deu, os apoios que mudaram de sentido, tudo aconteceu, como se não fosse possível quebrar o “sistema”.
Poiares Maduro, no momento de saída da sua missão na FIFA, deixou com nitidez a imagem de que Infantino e FIFA seriam irreformáveis por dentro, ou seja, estariam aprisionados ao destino traçado pelos milhões e seus investidores.
Muitas críticas bem preocupantes, mas também a força telúrica de silêncios institucionais que revelam o imenso poder de quem não é eleito mas continua a mandar em (quase) tudo. Infantino terá acordado com vontade messiânica de mudar? Pensamos que não, que o processo de domínio integral do negócio sobre o futebol, encontrou o momento e um protagonista chave para desferir mais um contra-ataque perigoso.
A lista de propostas para alterações tornou-se enorme, contínua, diária.
Há um alvo a abater: o futebol-jogo, o tal dos talentos e génios que controlam a bola num rectângulo, com uma simplicidade incrível, perante adversários que os procuram impedir e continuam a construir sonhos e magias que o tornam livre e entusiasmante.
Claro que há sempre hipótese de criar vícios e dependências (não só físicas mas materiais) com que se “procuram controlar as competições”: basta comparar orçamentos dos clubes, ponderações e rankings, e o “peso histórico” de alguns emblemas, nos órgãos de decisão (nacionais e internacionais) e outras manobras que a imprensa divulga.
O presidente da FIFA e seus conselheiros (simultaneamente assalariados bem remunerados) continuam a saga de criar cada vez mais provas internacionais (a última das quais, a anunciada intenção da “Final 8” (um Minimundial a jogar em anos ímpares), bem como uma Liga das Nações Mundiais a acrescentar ao programa da Liga das Nações Europeias. Também tem já em preparação o Mundial de Clubes! Desconhecemos se Infantino já conseguiu convencer os grandes patrocinadores a manterem o apoio (as grandes marcas quando ouvem a palavra “corrupção” recuam pois é uma ligação que sabem lhes pode causar danos muito graves). Inacreditável é o presidente da FIFA ter uma oferta de 20 mil milhões de euros para vender os direitos do Mundial de Clubes (previsto para 2021), sem identificar investidor, alegando acordo de confidencialidade. Mais uma inovação, o facto de aceitar vender a terceiros, o controlo das competições que organiza.
Esta inovação, envolta em secretismo estranho, inserida numa estratégia de confronto com a Europa, cuja Associação de Ligas Europeias se revolta na defesa dos jogadores e da sua necessidade de descanso, bem como na intenção de não aceitar o alargamento do número de clubes e de selecções em competições internacionais, cada vez em maior número. Depois da fase de renovação das regras (que tanta polémica criou mas que passou de moda), agora surge o “desenvolvimentismo” das competições internacionais, como imagem de marca, de dependência ou de sobrevivência deste modelo de gestão? 
Sem consistência, sem definição de prioridades transparente e com eficácia, voltamos a ver o futebol como um meio ao serviço quase exclusivo de “eleitos” e não como um precioso tesouro da humanidade para ser preservado e valorizado por quem assumiu essas funções.
O futebol está a ser atacado (assim como diversos valores essenciais da sociedade) de forma constante, imparável, para lhe mudarem o ADN.
Em cada localidade, apelo à defesa dos clubes para que de novo se tornem focos decisivos de resistência à prepotência e às ditaduras (mesmo que travestidas por mecanismos democráticos) e persigam a obra de juntar pessoas para criar condições para a prática desportiva, o debate de ideias, a solidariedade e que continuem a alimentar as condições de liberdade.
Esta guerra das estrelas, entre a sobrevivência do futebol-jogo contra o negócio-futebol, será decidida pelo maior empenhamento dos adeptos do jogo e por eleições em moldes que salvaguardem a liberdade e a responsabilidade de escolha, bem como a existência de espaço para divergências de opinião que nunca podem admitir fundamentalismos unanimistas.
Para concluir: a nível nacional, preocupa-nos bastante o exercício de funções/poder de forma incoerente. Contradições e decisões diversas para casos semelhantes no futebol, envolvendo personalidades e clubes distintos, revelam, no mínimo, indícios de eventual parcialidade na aplicação de penas a clubes e a dirigentes, o que é intolerável e motivo para equacionar demissão. Prestar contas, esclarecer sem omissões, é urgente e inadiável. A sua ausência tem sido uma das causas potenciadoras de conflitualidade e de violência.
Com esta aragem da FIFA e de outros ventos de consórcios desconhecidos não se vislumbram aspectos muito positivos. A não ser que se enfrentem os “adversários” com frontalidade, sem distracções e muita competência… Falhar é humano, mas corrigir o erro é sempre uma obrigação de cidadania. No futebol-jogo, dentro das quatro linhas, aprender a superar as dificuldades é tarefa e preocupação diária."

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