"A comunidade futebolística em Portugal está a funcionar num modelo de Estado Novo, és por nós ou contra nós. Falta pouco para ninguém ter direito a gostar de um jogo de futebol sem ter uma cor associada. Para mais num momento em que o ranking na UEFA não permite manter o mesmo número de equipas na principal competição. Os meios não têm qualquer importância para se atingirem os fins. Os gabinetes de comunicação e propaganda marcam a agenda diariamente. O regulador não consegue, e acredito que tenta, manter a situação debaixo de controle, com especial destaque para o desempenho das suas próprias equipas. Ouvem-se críticas constantes às decisões das equipas de arbitragem. Critérios técnicos e disciplinares dispares. Protocolo do VAR com limitações. Este é o quadro actual. As acusações são constantes e o ambiente é cada vez mais crispado. As dúvidas sobre o mérito das decisões criam um clima de desconfiança que prejudica de forma efectiva tudo o que se passa num jogo. Contudo, poucos são os que se questionam sobre os porquês de tudo isto. A maioria constata o erro e acusa, consoante, claro está, a perspectiva que lhe for mais favorável. Por isso há regras diferentes para uns e para outros. As avaliações de situações semelhantes são diferentes, não porque os juízes sejam os mesmos ou não, mas porque os intervenientes são diferentes. Uns e outros. Uns mais iguais do que outros. Uns, a minoria dos concorrentes mas representando a maioria dos adeptos, e Outros, a maioria dos concorrentes mas representando a minoria dos adeptos. Não há volta a dar, todos têm que ter o seu espaço, a competição não pode ser feita com Uns contra os Outros. este modelo tem que ser combatido. A pressão de uns sobre todos os outros tem que ser limitada. Atingimos um nível em que não tem importância a qualidade do jogo. Quando assim é estamos a caminhar por um mau trilho. Cumpram-se as regras, para uns e outros."
José Couceiro, in A Bola
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