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terça-feira, 26 de julho de 2016

Vídeo-árbitro - Gestão de expectativas

"O universo do futebol espera que o vídeo-árbitro possa resolver todos os erros de arbitragem, mas a realidade será outra.

O órgão que analisa e aprova alterações às Leis do Jogo, o IFAB, deu luz verde à realização de testes (durante dois anos) para avaliar se o Vídeo-Árbitro deve ou não ser aplicado no futebol. O objectivo é claro: perceber se beneficia o jogo e o espectáculo, diminuindo erros grosseiros de arbitragem. Importa ainda perceber se o futebol português, um dos seis que testará este sistema, terá capacidade e vontade em investir nesta área, suportando os seus custos logísticos, financeiros e humanos.
Presume-se que sim, visto que se posicionaram, desde o início, como protagonistas activos na introdução deste projecto. E bem.
Mas a mensagem que hoje quero passar-vos refere-se a um assunto que considero crucial para o sucesso desta inovação: a gestão de expectativas.
O universo do futebol espera que o Vídeo-Árbitro possa resolver todos os erros de arbitragem, mas a realidade será outra.
A intervenção do VAR (Vídeo Assistant Referee) só acontecerá em situações de excepção. Este só poderá actuar a pedido do árbitro ou por sua recomendação a este, perante erros cruciais e evidentes. Erros que possam ter influência directa nas equipas e na partida em si. Referimo-nos a qualquer circunstâncias que envolva grandes penalidades, expulsões (apenas por vermelho directo), decisões sobre legalidade na obtenção de golos e erros na identidade de jogadores/equipa, para efeitos disciplinares.
Todos os outros incidentes, que sejam menos graves e que não tenham impacto directo na partida, não serão revistos pela imagem televisiva. Porquê?
Primeiro, porque podem resultar da interpretação dada a um lance, em função do posicionamento e da forma como o árbitro conduz o jogo. Depois, porque caso houvesse recurso à imagem em cada situação de eventuais falha (pontapés de canto, lançamentos laterais, pontapés livre, foras-de-jogo, amarelos ou pontapés de baliza, só para mencionar alguns), o jogo seria interrompido dezenas e dezenas de vezes para a respectiva vídeo-análise.
Isso tornaria o futebol num jogo constantemente interrompido, monótono e previsível. Despia-lhe a dinâmica, a sua verdadeira alma e essência. E seguramente nenhum clube, adepto ou apaixonado do desporto-rei deseja isso.
Vem aí uma nova forma de ver e viver o futebol. E vem aí porque o mundo inteiro assim o exige há anos. Vamos dar-lhe então tempo, espaço e oportunidade para que cresça de forma sustentada e eficaz.
Para bem do próprio jogo."

Duarte Gomes, in A Bola

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