"Morreu o Artur. Agora, ao seu nome próprio era sempre acrescentado o nome de família, Correia. No entanto, no tempo em que o Artur jogava e entusiasmava multidões de adeptos, para o diferenciar de outros jogadores com o mesmo nome chamavam-lhe o ruço. Era loiro, de olho azul, e, quando jovem, tinha uma força que nos fazia prever uma vida eterna. Afinal, tinha apenas 66 anos quando a morte, piedosa perante as cruéis circunstâncias da vida, chegou.
No frio desenrolar do seu currículo de futebolista, se falará de títulos e de clubes. Da Académica, onde cresceu e, depois, do Benfica e do Sporting. Porém, os números nada dirão sobre aquele que foi uma força da natureza do futebol português. Um defesa lateral de enorme raça, que vivia cada jogo de futebol com uma intensidade inesgotável. O seu auge, nos anos setenta, altura em que o futebol se submeteu aos desígnios da revolução, que, obviamente, o condicionou, foi por mim acompanhado de perto e pelos jornalistas da minha geração. Era o tempo em que os jogadores de futebol não estavam distantes dos jornalistas, o tempo em que nos conhecíamos, nos admirávamos e nos respeitávamos.
Que o Artur viveu a vida com o mesmo excesso de vibração e de intensidade que colocava num jogo de futebol, é verdade. Que o Artur foi muitas e muitas vezes avisado por amigos e simples conhecidos de que as consequências poderiam ser graves, sobretudo depois do último acidente vascular cerebral que sofrera e que tanto o limitou, também é verdade, mas como recriminar quem vive a vida conforme sempre a desenhou?
Que descanse em paz."
Vítor Serpa, in A Bola
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