"Um dos maiores defeitos do futebol nacional é bem capaz de ser também um dos principais traços da personalidade cultural do português: tendência para a falta de clareza e frontalidade na abordagem de temas incómodos, a atracção pelo jeitinho, pelo secretismo. Varre-se para debaixo do tapete, faz-se orelhas moucas e quem vier atrás que feche a porta. No futebol, como noutros sectores, é muitas vezes assim e o resultado é, quase sempre, uma má comunicação. E o povo desconfia, claro. Desconfia dos bancos, dos políticos, da Justiça, dos dirigentes desportivos, da arbitragem, desconfia do futebol.
Em relação aos árbitros, criticar as suas decisões, ou os próprios dos árbitros e tudo o que lhes diz respeito, faz parte do jogo. O árbitro é o patinho feio do futebol, sempre o foi. Mas acho que facilmente todos chegamos à conclusão que a situação ultrapassou o limite do razoável. Como se resolve a questão? Provavelmente não se resolve. Mas há decisões que poderiam torná-la mais saudável. Por exemplo: castigar a sério quem tem responsabilidades e critica sem medida, profissionalizar e responsabilizar mais os árbitros, publicar os relatórios que fazem depois dos jogos, divulgar as notas que recebem; usar as novas tecnologias para minimizar o erro. São algumas ideias, que poderiam trazer transparência.
Por falar em transparência, ou clareza de processos, ou má comunicação, como preferirmos, veja-se este caso dos dois jogadores do Marítimo que iam jogar para Alvalade e acabaram no Porto. Nada contra, pois há mérito de quem fez o negócio, que foi mais rápido e eficaz do que a concorrência; mas era mesmo necessário acordar a transferência no dia em que FC Porto e Marítimo se defrontaram? E, se foi assim, não teria sido melhor que Marega nem tivesse entrado em campo? Uma questão de clareza, apenas."
Nélson Feiteirona, in A Bola
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