"Entre 1948 e 1953, o Benfica conquistou quatro Taças de Portugal consecutivas (em 1950 a prova não se disputou). Encerra-se hoje, com a vitória, por 5-0, frente ao FC Porto, a recordação da epopeia...
E o ciclo fecha-se... Já vimos como o Benfica venceu as finais da Taça de Portugal de 1948/49 (2-1 ao Atlético), de 1950/51 (5-1 à Académica) e de 1951/52 (5-4 ao Sporting) - volte a recordar-se que em 1949/50 não se disputou a Taça de Portugal para que se jogasse no Jamor a Taça Latina, que o Benfica também venceu. Falta ver como conquistou o troféu na época de 1952/53, cumprindo com virtuosismo a sua quarta vitória consecutiva na competição.
Ano estranho para o Benfica, que teve três treinadores, Cândido Tavares, Alberto Zozaya e Ribeiro dos Reis, cabendo a este militar, estudioso das tácticas e das regras do futebol, um dos fundadores do jornal «A Bola», dirigir a equipa nos jogos para a Taça de Portugal.
Nesse tempo a Taça jogava-se depois do final do Campeonato, com os jogos sucedendo-se ininterruptamente até ao encontro decisivo do Jamor. Assim, entre 3 de Maio e 28 de Junho de 1953, o Benfica cumpriu o seu destino vitorioso.
A primeira eliminatória é frente ao Vitória de Setúbal (derrota, 2-3, no velho Campo dos Arcos, vitória, por 5-2, no Campo Grande), seguindo-se o Barreirense (duas vitórias encarnadas, 1-0 no Barreiro e 6-0 em casa). As meias-finais disputam-se com o Vitória de Guimarães. Mais duas vitórias, ambas por 3-1, em casa e fora. A Final será frente ao FC Porto, mas já lá vamos.
O ataque do Benfica é temível. Tem Rogério Lantres de Carvalho, o Rogério «Pipi», caso raro de intuição para marcar em jogos da Taça; tem Arsénio, rematador exímio, e já tem José Águas, cabeça de ouro do Futebol em Portugal.
Talvez houvesse alguém capaz de prever uma Final equilibrada no Jamor. Ah! Como caíram por terra tais previsões.
Sobre a relva do Estádio Nacional pareceu existir apenas uma equipa. E vestia de vermelho.
Elogios ao «Mãos de Ferro»
«Se em vez de duas equipas de futebol, mão caprichosa tivesse colocado ontem, no recinto do Jamor, um gato e um rato, o despique teria evoluído e terminado da mesmíssima maneira, salvo, evidentemente, o desfecho admissível, que no caso dos inimigos figadais, sacrificaria, naturalmente, a vida do mais fraco».
Já estão a ficar com uma ideia?
Continuemos a ler: «Tal como faria o felino em face do rato, o Benfica dispôs como quis do adversário, um Futebol Clube do Porto que, mau grado os esforços bem intencionados dos seus dirigentes, chegou ao fim da época como começou. (...) Poucas vezes como ontem a incapacidade portista se terá revelado tão flagrante. Nunca, talvez, a turma se curvou tanto perante um adversário, deixando-se manobrar tão abertamente a ponto de consentir um resultado que ninguém ousaria prognosticar e com a agravante de a marca, apesar de substancial, ainda dar margem para que se especule com a afirmação de que poderia ser bastante pior...»
Esclarecidos?
A Imprensa é unânime em considerar que Barrigana, o «Mãos de Ferro», foi o jogador mais marcante do encontro, impedindo vários outros golos do Benfica.
E o resultado, perguntarão vocês? 5-0, sem discussões! E poderiam ter sido sete, ou oito, ou mais. «O equilíbrio global e o talento individual de alguns elementos assinalaram a exibição que tão cedo não se esquecerá», concluía-se.
Rogério «Pipi», abriu o marcador, aos 34 minutos. Seguiu-se Arsénio, 4 minutos depois. José Águas fez o 3-0, aos 39 minutos. Arsénio fecharia as contas, com mais dois golos, aos 58 e 89 minutos.
Joaquim Fernandes, o «capitão», ergueria a Taça. A quarta consecutiva do Benfica. Mesmo que, já nesse tempo, não servisse de consolo para a perda do Campeonato.
Há coisas que não mudam..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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