"No FC Porto, não fazia sentido que Sérgio Conceição voltasse a ser só treinador; no Benfica, Schmidt ficará por convicção ou por inação?
A dança de treinadores é global. Há anos assim. Ciclos que terminam, alguns longos, e ciclos que se iniciam. No futebol, a mudança é uma prova de vida. Muito tempo a olhar para as mesmas caras, os mesmos vícios e as mesmas virtudes, cansa. É como ir ao cinema e ver o mesmo filme. O realizador pode ser bom, o argumento criativo, os intérpretes divinos, mas, a dada altura, a previsibilidade própria da repetição esmorece a intensidade do prazer do entretenimento.
Por razões semelhantes, os próprios protagonistas escolhem a mudança como um garante de renovação de adrenalina e de uma irrecusável tentação pela aventura. Outras paragens, às vezes, outras gentes e culturas, outro desafio de vida. Todos ouvimos, agora, falar em mudanças de treinadores nos maiores clubes europeus. No Liverpool ou no Barcelona, no Milan ou no Bayern. Quando os ventos de mudança fustigam os gigantes, é certo e sabido que se rasgam todas as janelas e a ventania varre tudo e todos. É o futebol e toda a indústria que ele sustenta a revitalizar-se no mercado liberal da oferta e da procura.
Admito que por razões distintas esses ventos de mudança também soprem no futebol português. Há muitos clubes a escolher novos treinadores, nem sempre com rigor e com ponderação. Mas a época nacional está na sua última gota de esforço e suor e, por isso, pensa-se na próxima. Quando assim é, olha-se, primeiro, para os nossos grandes. Do Sporting, que parece, atualmente, o clube gerido com mais cabeça, já se sabe que não foi em vão o esforço de Varandas para manter Rúben Amorim, líder de um projeto que avança e que está a ter um indiscutível sucesso. Do Benfica, conhece-se o quadro de instabilidade assente numa relação tóxica entre adeptos e treinador. Seria, por princípio, o clube que mais razões encontraria para mudar. Porém, todo o universo do futebol profissional do Benfica vive tempos de insegurança e de hesitação, o que, aliás, explica uma confrangedora ausência de qualquer política de comunicação. Schmidt fala frequentemente e fala sozinho. Não se sabe se tem apoio do presidente Rui Costa quando diz o que diz e não se sabe, sequer, o que Rui Costa pensa sobre o treinador e sobre muitas outras coisas. A regra do silêncio imposta a si próprio transformou Rui Costa num presidente mais acossado, porque não se sabe se não fala por uma questão de filosofia de gestão pública do clube, ou se não fala porque entende que tudo o que possa dizer pode aumentar o ruído junto dos adeptos. Seja por que razão for, quando um presidente de um clube grande gere a sua comunicação pelo silêncio incorre no perigo suscitado pelas civilizações modernas, onde o silêncio é sinónimo de inexistir. Maior o perigo quando esse silêncio fez ecoar mais alto as deselegantes considerações do treinador alemão, que trata os adeptos e o país com laivos de desrespeito. Rui Costa chuta o problema para canto e já se percebeu que, por sua vontade, Schmidt irá ficar. Porém, e se for por convicção, gabo-lhe a coragem.
Por fim, o episódio do termo anunciado do ciclo de Sérgio Conceição, no FC Porto. Uma mudança inevitável e justificável. Sérgio incorporava muito mais do que um projeto profissional de um treinador de futebol. Ele era o pilar mais sólido e talvez o único consensual na controversa gestão de Pinto da Costa. Pelo seu presidente procurou dar tudo o que podia e sabia e, sem se aperceber, acabou por se confundir com um projeto assente na soma restrita de lideranças únicas. Não faria sentido continuar com Villas-Boas, passando a ser apenas treinador do FC Porto. Mas, ao contrário do presidente, sairá pela porta principal."
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