"O dinheiro é fundamental no futebol, mas os adeptos serão sempre o motor que fará com que as competições tenham, ou não, valor
Por norma, janeiro é um mês animado em Portugal. Do lado competitivo, temos uma carga elevada, com a final four da Taça da Liga a centrar as atenções. Fora dos relvados, os clubes aproveitam a abertura do mercado para corrigirem maus planeamentos ou apostas, tentando constituir um plantel mais capaz para fazer frente às fases de decisão das diferentes competições. Temos ainda a particularidade das eleições do FC Porto e dos recentes desenvolvimentos nos trazerem mais motivos de interesse!
Taça da Liga
A semana que agora começa será marcada pela final four da Taça da Liga. Trata-se de um evento bem organizado que tem a capacidade de gerar uma dinâmica muito positiva na cidade de Leiria. São vários os eventos que decorrem na fun zone e que acabam por atrair muitos adeptos e ligá-los ao jogo. Apesar de ser uma competição que cria maior densidade competitiva num calendário, por si só, muito apertado, a verdade é que esta semana traz uma energia positiva ao futebol português. Associa e envolve os adeptos através de eventos e atividades lúdicas. Ex-jogadores ou figuras conhecidas da população em geral associam-se a uma semana que tem tudo para ser diferente. Para que a energia seja totalmente positiva, será fundamental que todos os intervenientes se respeitem, dentro e fora do relvado. Todos devem lutar pelo seu objetivo com fair play e sabendo perder ou ganhar. Se assim for, esta final four será um ótimo cartão de visita do futebol português. Por fim, tem-se falado na possibilidade de a fase final desta competição poder vir a ser jogada na Arábia Saudita. Neste caso, o objetivo será meramente económico. Percebo, mas não concordo. Como referi, a grande mais-valia da final four é permitir que durante uma semana as atenções do futebol em Portugal se desloquem para uma cidade e se crie empatia e dinâmica entre adeptos e equipas. Com a deslocação da fase final da competição para a Arábia iremos perder aquilo que o futebol tem de melhor: a proximidade dos adeptos e a paixão que deve existir pelo jogo. O dinheiro é fundamental no futebol, mas os adeptos serão sempre o motor que fará com que as competições tenham, ou não, valor. Retirar a competição aos verdadeiros adeptos, e transportá-la para países que não têm ligação com os nossos clubes, é algo que outros países têm estado a fazer mas que, no limite, retira aquilo que é o fundamental no desporto. Se pararmos para pensar iremos perceber o que quero dizer. Para nos compararmos com os outros, devemos olhar para os melhores exemplos. Neste caso, alguém imagina a final da Taça da Liga inglesa a ser jogada na Arábia? O futebol é e sempre será dos adeptos!
Benfica - mês agitado
O mês de janeiro tem sido muito animado para o Benfica. São vários os reajustes que têm sido feitos no plantel. Entradas e saídas que animam e criam expetativas nos adeptos. Ter a capacidade de assumir que o planeamento, sobretudo no que diz respeito a algumas posições, foi mal executado, é fundamental para poder seguir em frente. Na lateral-esquerda surge Álvaro Carreras, um jogador com o perfil que os encarnados procuram, que pode ser útil no presente e que, se se conseguir adaptar, será uma opção de futuro. O espanhol vem ocupar a posição de Jurásek que, apesar do investimento elevado, não demonstrou qualidade para se assumir no Benfica. Bernat é carta fora do baralho porque, segundo nos revelou, está a tratar de uma pubalgia que possivelmente já tinha quando foi contratado no último dia de mercado de verão. A vaga de Gonçalo Guedes é ocupada por Rollheiser. São dois jogadores diferentes. Guedes não se conseguiu afirmar e Rollheiser vem sedento de demonstrar todo o seu potencial na Europa. Trata-se de um jogador que tem muita qualidade técnica e que pode ajudar a que o jogo do Benfica seja mais imprevisível. Estas duas contratações, em conjunto com Marcos Leonardo e Prestianni (que deve ser anunciado no fim do mês), devem fechar o mercado de entradas no Benfica. Do lado das saídas, além de Guedes e Jurásek, Chiquinho, também sem espaço, sai para o Olympiakos, onde vai procurar ser mais influente na equipa de Carlos Carvalhal do que era na Luz. João Victor foi outro dossier resolvido e que não necessita de reajustamentos, porque a sua posição está devidamente preenchida. Fica apenas a dúvida em torno da saída, ou não, de Musa, que não entra nas opções preferenciais de Roger Schmidt e que tem mercado noutros campeonatos. Se no mercado o clube encarnado está muito ativo, no retângulo também não existe espaço para relaxar. Até ao momento, o mês de janeiro apenas trouxe vitórias ao Benfica. Esta semana será mais um importante teste à evolução da equipa e à sua consistência exibicional.
AVB dá o primeiro passo
No FC Porto a agitação não tem a ver com a vertente desportiva, uma vez que foi eliminado da Taça da Liga, não podendo assim marcar presença em Leiria. No mercado, as movimentações têm sido de saídas e não de entradas. Fran Navarro já se encontra no Olympiakos e David Carmo poderá ser o próximo. Neste momento, o grande foco do FC Porto está nas eleições que estão marcadas para abril. André Villas-Boas deu o primeiro passo ao apresentar a candidatura. Criou um evento bem organizado, que teve uma adesão de aproximadamente 800 pessoas que fizeram questão de estar presentes e demonstrarem o seu apoio. O momento alto foi o discurso. Como seria de esperar, AVB apresentou o seu programa e as suas ideias. Olhou para dentro. Identificou as debilidades, colocou questões e apontou um caminho. Respeitou Pinto da Costa, mas reforçou a necessidade de mudança. Deu enfoque à cultura portista, reforçando os valores da mesma. Pediu coragem aos adeptos para se exprimirem sem receios de represálias. Referiu que o clube está agarrado a uma gestão sem nexo e sem rumo e definiu objetivos, apontando um caminho com ideias e com um programa bem definido. Devolver o clube aos sócios e promover o associativismo são as bases da sua campanha. Pretende imprimir inovação (como se viu na apresentação), ética e transparência. No fundo, apresentou ideias e fez questão de referir que não se está a candidatar contra ninguém. AVB teve a capacidade de fazer aparecer muitos dos fantasmas de Pinto da Costa. A gestão desportiva, a gestão financeira e a falta de liberdade são alguns dos temas dos quais o presidente do FC Porto foge e raramente aborda. Ao longo de 41 anos de presidência, Pinto da Costa nunca teve um candidato que apresentasse ideias, organização, método e que fosse reconhecido internamente. Como consequência, a estratégia do atual presidente deverá passar pelo ataque pessoal e não pelo debate de muitos dos temas que AVB abordou na apresentação. São dois caminhos muito diferentes de um jogo que ainda agora está a começar, mas que está a gerar muita expetativa no universo portista e no universo do desporto nacional."
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