"Explica o dicionário que Catarse é uma “libertação de sentimentos ou emoções reprimidas que conduz a uma sensação de alívio ou pacificação”. E como o mundo do futebol, a nível nacional e internacional, precisa de libertação e paz de espírito!
A Federação escolheu o estádio do Sporting para a “apresentação” da primeira seleção sem jogadores leoninos a disputar uma grande competição. Talvez seja uma forma de dizer que nesta matéria não há nem deve haver divisões e que o próximo mês justifica uma trégua olímpica em torno de um bem maior - esperemos que corra bem.
Por falta de cultura desportiva, tudo no futebol nacional se confunde com conspirações, interesses e negociatas, desculpas esfarrapadas e alegações avulsas.
E por mais óbvias que tenham sido as escolhas para o Catar, o mal-estar dos responsáveis do Sporting é indisfarçável porque eles sabem quantos milhões a mais pode valer no mercado uma presença entre os 26 da lista final. Mais do que uma provocação, o possível baptismo de voo de António Silva nos terrenos de Gonçalo Inácio desafia todos, de forma simbólica, à primeira catarse deste mundial: espíritos pacificados pela certeza de um futuro feliz que, sem dúvida, incluirá o dia em que os dois jovens actuarão lado a lado na seleção.
Até ao anúncio da FEMACOSA, eram os benfiquistas a desdenhar da seleção por causa da renúncia de Rafa, em cima de muitos anos de reduzida influência encarnada na equipa nacional. Agora, estão tão orgulhosos das chamadas dos seus jovens prodígios que até os Rubens e Bernardos contam.
Os sportinguistas ufanavam-se de ser a base da equipa campeã europeia, com o mesmo selecionador. Agora queixam-se de discriminação, apesar de muitos dos seus jogadores de 2016 ainda por lá andarem.
E ainda há os que distinguem os africanos dos brasileiros entre os nacionalizados. E, claro, os que não suportam que determinado agente tenha em carteira a maioria dos melhores.
É a todos estes portugueses, doentes de rancor desportivo, que a seleção pede uma trégua como as que os gregos antigos proclamavam no mês dos Jogos. As guerras continuarão depois.
Finalmente, Cristiano Ronaldo, o factor de união que acaba a carreira a dividir em vez de agregar e que optou por estar nas televisões e redes sociais à hora em que os colegas tomam um derradeiro banho de confiança num estádio repleto de adeptos diferentes.
Que alguém lhe transmita o voto da maioria dos portugueses: “Cristiano, anda bater, tu bates bem. Se falhar, que se…”"
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