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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Catar 2022 e COP27: Os pontos nos ís e os traços nos tês


"Sejamos claros, o taco, o cacau, o dinheiro está todo no Golfo Pérsico e as economias ocidentais estão nas mãos, ou dos árabes ou dos chineses. Um dos sinais evidentes dessa realidade, do qual já ninguém se lembra, remonta a Fevereiro passado, quando a sonda "Amal" (Esperança) dos Emirados Árabes Unidos amartou em Marte, numa semana de tráfego intenso no planeta vermelho, já que 24 horas depois amartou também a "Tianwen" da China e uns dias depois a "Perseverança" americana. Esta corrida a Marte, bem como este pódio, definem a posição de força de cada um destes países na Terra, com base no fundo de maneio disponível para este tipo de investimento e bluff também. Não esquecer que foi o bluff americano sobre a "guerra das estrelas", que levou o bem-intencionado Gorbachev a reconhecer que não tinha um saco azul que fosse, para alinhar nesta competição e atirou a toalha ao chão assumindo aquilo que os russos por norma ainda hoje nunca assumem e que é o erro. O erro no sentido em que o modelo económico escolhido falhou, não vingara e foram claramente ultrapassados pelos americanos no plano do imaginário, do que ainda estava por construir.
A polémica, justificada aliás, em torno da questão dos direitos humanos no Mundial de Futebol que viu o pontapé de saída ser dado ontem (20 Nov.), espelha precisamente o cenário marciano. O poder do dinheiro comprou tudo e todos, especialmente aqueles que agora se fazem de distraídos e até indignados com a realização do evento. Estando o mal feito, já que o evento já começou, parece-me importante valorizar o outro lado desta moeda. Qual, afinal? O facto do assunto estar em cima da mesa e das lideranças destes "califadozinhos" não terem forma, desta vez, de poderem calar o indivíduo, os grupos de pressão, os patrocinadores. Nem a polícia poderá encostar a multidão à parede e começar a bater, como se viu ontem na confusão do acesso a uma das zonas de fans. "Mas os patrocinadores patrocinaram, que moral têm para levantarem a voz?", poderá dizer/pensar. É verdade, mas calma, "Roma e Pavia não foram feitas num dia". O imediatismo vigente é aliás o maior inimigo para a evolução e no "deserto islâmico" o ritmo é outro e é improdutivo ir contra o mesmo, porque pode faltar a água quando mais se precisa e "cair tudo por areia". Os resultados serão visíveis numa década ou duas e o debate e a pressão estão lançados. O Médio Oriente não estará desconectado de uma nova ordem mundial em esboço e quererá ocupar uma posição na mesma. Ora esse posicionamento começou ontem e os próximos dias ditarão que Catar será este a partir de 19 de Dezembro, o dia seguinte à entrega da taça.

COP27 e COP28, o "lado marciano" da questão!
O Mundial de Futebol começou ontem dia em que a COP27 terminou em Sharm-el-Sheikh no Egípto, quando a mesma deveria ter terminado na sexta-feira anterior, 18 de Novembro. Porquê? Porque após uma semana de debates, chegado o fim do evento, a organização ainda não tinha chegado a acordo para um comunicado final que apresentasse alguma evolução positiva que no mínimo teria que confirmar os objectivos do Acordo Climático de Paris de 2015 e que tem como objectivo mais claro e público, trabalhar-se no sentido de conter o aumento da temperatura no planeta abaixo dos 2º Celsius relativamente aos níveis pré-industriais e de continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5º Celsius para as próximas décadas. Graças à pressão europeia, daí estes dois dias extra, conseguiu-se também a criação de um Fundo de Respostas a Perdas e Danos, que beneficiará os países menos desenvolvidos, que por vezes são os mais poluidores, por via da deslocalização de indústrias ocidentais, que nestes "paraísos industriais" podem poluir na ausência de leis ambientais. Mas esta contradição, para mim é compreensível, a qual teve origem na Cimeira do Rio de 1999, altura em que se estabeleceram quotas de poluição para todos os países signatários, sem se olhar às diferentes capacidades industriais de cada um. Resultado, sobretudo os americanos, começaram a comprar as quotas dos países menos poluidores, para manterem o seu ritmo de produção! O que já é menos compreensível, é ter ficado agendada a COP28, para daqui a um ano, a realizar nos Emirados Árabes Unidos, um dos maiores produtores de combustíveis fósseis, os mesmos em discussão para a gestão do fim da respectiva exploração. Volto ao bloco anterior, para terminar como comecei, "Sejamos claros, o taco, o cacau, o dinheiro está todo no Golfo Pérsico e as economias ocidentais estão nas mãos, ou dos árabes ou dos chineses."
(...)"

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