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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O mundo não se fez em dois dias

"Não querendo ficar fora do zeitgeist cinematográfico (é ainda cinema quando é Netflix?), este fim de semana vi o "Marriage Story", o filme mais nomeado nos Golden Globes. Foi, ao contrário do que me tinham antecipado, menos transcendente do que expectável e, também por isso, mais realista, assemelhando-se aí à série "The Affair". Não é, ao contrário do que o título indica, a história de um casamento, mas a história de um divórcio, mas o que é a história de um divórcio senão a história de um casamento?
Cada história é uma história e a nossa história nunca será igual à de alguém - é que nem mesmo à de quem a partilha connosco -, com altos e baixos, avanços e recuos, ânsias e lamentações. Nunca é óbvio onde começa ou acaba (o amor) e é por isso que facilmente nos identificamos com o filme. Não é óbvio, não é linear, não tem explicação fácil. É a vida.
Parecendo que não, isto (bom, pelo menos na minha mente - possivelmente distorcida, concedo) tem tudo a ver com futebol e, particularmente, com o contexto de um homem que nos tem mostrado ultimamente que a falta de linearidade às vezes é o melhor que nos pode acontecer. Chamaram-lhe gordo, bebêdo, preguiçoso; passou épocas a arrastar-se, sem chegar sequer à dezena de jogos; ripostou com comentários vingativos de que mais tarde se arrependeu; e, por fim, renasceu.
No Benfica-Famalicão, ao lado de Gabriel, Adel Taarabt foi o que nunca tinha sido, registando seis desarmes no jogo - o máximo da Liga portuguesa. O resto, já sabíamos que tinha: a bola nos seus pés é um poço de fluidez só ao alcance dos melhores e a verticalidade com que lhe dá sequência muda drasticamente o jogo colectivo da equipa.
Não sabemos bem como nem porquê, mas Taarabt recusou a sua própria obsolescência e, por arrasto, vai adiando a do Benfica de Bruno Lage, que entendeu que a história da equipa, esta época, tinha de passar por aqueles pés. É tudo uma questão daquilo que há cada vez menos (não só no futebol): paciência.

PS- Quando se quer dar tudo rápido e, na verdade, não se tem nada para dar, acaba-se a estragar vidas. Em Leiria, Vila Franca de Xira e em muitos outros sítios. Lá está, falta de paciência. Isto sim, uma vergonha."

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