"Uma das grandes questões deste início da temporada benfiquista foi a frente de ataque. Com as saídas de Jonas e João Félix, abriram-se vagas que só muito dificilmente serão colmatadas a curto prazo. Numa tentativa de manter os níveis de genialidade nos mínimos aceitáveis, houve o regresso de Chiquinho, a manuntenção da aposta em Jota e 20 milhões em cima da mesa por Raul de Tomas. O espanhol tem sido, até agora, a escolha primordial de Bruno Lage para emparelhar com Seferovic, mas a dúvida subsiste: será a dupla funcional? Terá De Tomas características suficientes para jogar no apoio ao ponta-de-lança ou o seu habitat natural é a grande área?
Percurso Dos Avançados Nas Últimas Cinco Épocas
As realidades e contextos de crescimento dos intervenientes em nada se comparam, assim como as suas etapas evolutivas no último lustro. Seferovic explodiu definitivamente no SL Benfica e apenas na última época, a caminho dos 28 anos. Depois de experiências um pouco por toda a Europa, assimilando contextos tão diferentes como a Serie B italiana ou a obsessão técnica da Liga espanhola, onde partilhou balneário com Griezmann e Carlos Vela no país basco, Seferovic chegou a Frankfurt para se consolidar num futebol completamente confortável para as suas características físicas. De 2014 a 2017, o suíço contabilizou 86 jogos na Bundesliga, mais oito na Taça alemã, colocando a bola na rede 20 vezes, números ainda longe do que realmente poderia fazer e que o seu potencial indicava. Fruto das suas competências técnicas apreendidas nos anos anteriores, tanto Thomas Schaaf como Armin Veh, ou ainda Niko Kovac na última temporada de Alemanha, olharam para o atleta não apenas como avançado de área, jogando inúmeras vezes com o suíço em zonas de apoio ofensivo: extremo esquerdo (como Rui Vitória chegou também a fazer em situações de desespero), extremo direito, segundo avançado. Se estas variações deixaram Seferovic mais longe da baliza adversária, limitando a sua capacidade finalizadora, também potenciaram o jogador que é hoje, tornando-o no avançado possante e móvel que Lage tanto aproveitou, em constantes e mortíferos ataques á profundidade adversária.
Raul de Tomas, por outro lado, fruto também da sua idade, ainda agora procura espaço a nível de topo para explanar toda a sua qualidade que até agora ainda só teve uma temporada de liga primodivisionária, o que aos 24 anos dá urgência por outro estímulo competitivo que nas Vallecas era impossível alcançar. Em 2014/2015 ainda estava na etapa B da formação madridista, estreando-se num jogo da Copa d’el Rey, 14 minutos oferecidos por Ancellotti. Com Benzema, Ronaldo, Bale, James e Lucas Vazquéz a assumir preponderância nas primeiras escolhas, 2015/2016 foi altura de rumar a Córdoba, na segunda divisão, ainda que sem grande impacto. É no Valladolid que Raul dá o salto em termos quantitativos na estatística do golo. Somou 14 na conta pessoal e 1946 minutos na segunda divisão que o colocavam como uma das figuras e um dos candidatos a dar o salto para a primeira. Mas o Rayo Vallecano queria regressar ao convívio dos grandes e nada melhor que juntar De Tomas a Óscar Trejo, formando do Boca Juniors, dupla que deu origem a 36 golos dos 67 marcados pela equipa em toda a competição. Ficaria dificil falhar a subida, facto que aconteceu com relativa facilidade com o plantel ao comando de Michel, homem da casa que iniciava a sua carreira como técnico principal. Na Primeira Divisão, o avançado espanhol continuou a mostrar a veia goleadora, não se inibindo de demonstrar credenciais junto dos mais fortes, com 14 golos em 33 jogos.
Torna-se, portanto, um processo ambíguo a comparação entre dois avançados modernos, com capacidade de jogar entre linhas, ainda que essa não seja a sua competência primária. Ambos se sentem melhor como último homem, uns metros mais à frente, e é aí que se sentem mais confortáveis. A dupla vai tendo rendimento no futebol benfiquista, levam 10 golos em dois jogos, com participação activa dos membros da frente (um golo e uma assistência para Seferovic, 153 minutos impactantes de um Raul a quem só falta marcar), mas fica a impressão de que não se estão a aproveitar completamente as capacidades dos dois. A presença de Jota ou Chiquinho como trequartista, para ligar em zonas interiores com os avanços dos desequilibradores Pizzi e Rafa, é algo que em teoria resultaria da melhor forma, aproveitando as melhores características de De Tomas, que tem o killer instinct que o suíço nunca conseguiu demonstrar de forma recorrente, apesar da Bota de Prata do ano transacto. A eficácia não é o seu forte, apesar dos 23 golos da temporada transacta; as oportunidades desperdiçadas em catadupa não costumam fazer mossa numa equipa com o caudal ofensivo como tem o Benfica de Lage, mas as exigências da Champions obrigam a um maior cuidado aquando da escolha do matador de serviço.
Veredicto: Seferovic como suplente dá enormes garantias, enquanto se De Tomas confirmar a evolução que tem vindo a demonstrar pode se tornar um caso muito sério de proximidade com as balizas contrárias. Qualidade técnica, bom remate com os dois pés, visão de jogo, tem características ideias para se juntar á orquestra que se espera ser o ataque do Benfica. Com três criativos nas costas, não faltam hipóteses para Raul suceder a Seferovic como melhor marcador da Liga Portuguesa, assim seja a vontade de Bruno Lage."
Pedro Cantoneiro, in Bola na Rede
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