"Ao longo da história, as sociedades procuraram criar, para os seus cidadãos, vários mecanismos de confiança, que tinham a ver, sobretudo, com a segurança, com o respeito pela propriedade privada e com o direito à privacidade. E não foi por acaso que sempre se puniu severamente, nas várias ordens jurídicas, todos e quaisquer actos de violação de correspondência, um dos pilares da estabilidade da vida em comum. Com a chegada de novas formas electrónicas de comunicação, a lei adaptou-se, mas manteve a matriz original, que zela pelo direito de cada um a não ver a sua vida devassada e a cair na praça pública. Imagine-se que um momento para o outro toda a gente tinha acesso a todos os emails de todas as pessoas. Não é difícil concluir que estariam abertas, de par em par, as portas do caos...
O que aconteceu, com os emails do Benfica, na fase criminosa do roubo e na fase criminosa da sua divulgação, constituiu uma ameaça tremenda à sociedade, que só não foi devidamente valorizada por cegueira clubística e snobismo elitista. Muitos, de clubes diferentes, acharam piada; outros, entenderam que eram coisas de futebóis, a que não devia dar-se relevância.
Foi preciso que uma das maiores sociedades de advogados de Portugal fosse vítima do mesmo hacker que pirateou o Benfica para que um pânico transversal se instalasse. E bastou isso para que finalmente fosse dado ao problema em causa a importância transcendente que ele justificava.
Com a detenção, em Budapeste, do alegado hacker responsável pelos crimes informáticos atrás referidos, abre-se caminho para que o autor material, os cúmplices, os mandantes e os usufrutuários do crime sejam devidamente punidos. Tenho, por norma, confiança na Justiça. Tarda, por vezes,mas raramente falha..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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