"Depois de a Juve o querer levar para Itália, aos 15 anos, o ataque portista; Única expulsão, nas Antas (e ridícula...)
1. Antes ainda do Benfica, embeiçou-se o FC Porto por ele: «É verdade que disse que se não fosse futebolista seria bailarino na Broadway, mas sabia: o meu futuro era o futebol - e aos 15 anos a Juventus quis contratar-me. Foram falar com a minha mãe, ao ouvir falar de Itália, ela não quis conversa».
2. Depois da tentação da Juve, foi o Belenenses a Moçambique: «Também me quiseram, davam 110 contos por mim - e foi logo a seguir que apareceu o FC Porto a oferecer 150». Nesse torneio participou a Ferroviária de Araraquara, treinada por José Carlos Bauer. Mandou telegrama para o Brasil a perguntar se podia tentar levá-lo para lá (e de lá não lhe responderam...)
3. Ao passar por Lisboa, Bauer fez visita a Béla Guttmann (que o treinara no São Paulo). Falou-lhe do «menino tímido» de Lourenço Marques em tal fervor que Guttmann suplicou ao seu presidente que pagasse o que fosse preciso por ele - e o Benfica, sabendo do assédio do FC Porto, mandou entregar 250 contos (só para eles) à casa de zinco e colmo onde vivia (250 contos hoje seriam 91530 euros).
4. O Sporting entrou na jogada, perdeu-a nos 400 contos que levaram o Sporting de Lourenço Marques a mandar para o Benfica a sua carta de desobrigação. Já a caminho da eternidade, o primeiro golo ao FC Porto marcou-o em véspera da final da Taça dos Campeões (que venceu) - acabou 3-1 e Carlos Pinhão escreveu: «Tanto o procurou, perante sucessivos malogros, que o alcançou, festejando-o como se se tratasse já de golo ao Real Madrid». (Foi jogo para a Taça - que o Benfica ganhou ao V. Setúbal).
5. Em 15 épocas no Benfica, só perdeu oito jogos oficiais na Luz - e o primeiro, me Novembro de 1962, para o FC Porto: 1-2 (sendo dele o golo). Já Desmond Hackett lhe chamara Black Panther - e ele não lhe achou graça: «Havia um bando de assaltantes na América que se dominava assim, por isso custou-me engolir essa historia da Pantera Negra. Mas com o tempo passei a gostar. E muito...»
6. Nas Antas, sofreu sete derrotas - a primeira, na primeira vez em que lá jogou, foi a 8 de Dezembro de 1961: 1-2 (e não marcou) - atormentado pelo joelho, teve de ser injectado, largou o campo a coxear. 11 dias operaram-no ao menisco, abriu-se-lhe o calvário: o Departamento Clínico lançou-lhe: «40 baixas por lesão» só entre 1964 e 1974 - o ano em que voltou a perder com o FC Porto na Luz. Jogou outra vez massacrado em dor, fizeram-lhe logo depois a sexta operação ao joelho.
7. Em 1964 jogou-se a única final de Taça entre ele e o FC Porto. O Benfica treinado por Lajos Czeiler, venceu por 6-2 - e Américo, o guarda-redes portista contou-o: «Um escândalo... A partir de certa altura passámos a insultar o árbitro de tudo, a perguntar-lhe se não tinha vergonha na cara de estar a arbitrar daquela maneira - e até na tribuna à frente do presidente da República, fizemos o mesmo. Ele, comprometido, não foi capaz de expulsar mais nenhum de nós, já tinha expulso o Jaime, posto o Benfica a vencer com penalty incrível». (Foi ele que o marcou, ao longo da sua vida quatro falhou - e nenhum com o FC Porto).
8. Vezes sem conta o afirmou: «Comigo no Benfica, o FC porto nunca foi campeão». É verdade. Mas foi o FC porto que lhe aplicou a derrota mais pesada que equipa portuguesa lhe aplicou: 4-0 (nos quatro golos de Lemos). E foi contra o FC Porto que sofreu a única expulsão: «Antes dum livre, o árbitro disse-me para não mexer na bola, precisava de a ajeitar, ajeitei - e ele expulsou-me. Foi de tal forma injusto que o público todo desatou a aplaudir-me e Otto Glória, o treinador portista, me foi abraçar».
9. O futebol acabará de ganhar nova regra: as substituições - e foi nas Antas a primeira vez que tal lhe aconteceu, a 15 de Setembro de 1968: Otto Glória pôs Jacinto por causa de lesão que se diria podia ter-lhe arruinado de vez a carreira (e não...)
10. O último golo como benfiquista marcou-o ao FC Porto - a 31 de Março de 1975 em Paris (na vitória por 5-1). A camisola do Benfica voltou a vestir na festa de homenagem a Carlos Lopes - quando já andava pela América. Foi a Alvalade numa «equipa de miúdos», na cabina lançou-lhes em brado: «O futebol, para mim, nunca pode ser uma brincadeira. Mais: não gosto de perder! Portanto, vamos lá ganhar este jogo!» - e o Benfica ganhou por 3-2..."
António Simões, in A Bola
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