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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Os conselheiros (musicais) da FPF

"Os conselheiros de disciplina, pelos vistos, autoconsideram-se, agora e também, especialistas em música.
Curiosa peritagem adicional, para alguém de quem se esperaria tudo, menos isso. Mas obviamente que, desde já, com a recente investida em que baralharam factos e conceitos tão secantes como futebol profissional, regulamentação, espectáculo, entretenimento, festa e público, eles próprios chumbam rotundamente no que terá sido, historicamente, o seu primeiro 'exame de admissão à especialidade'...
É que nem eles, nem o delegado que terá escrevinhado o relambório sobre o clássico de domingo, sabem, sequer, o que é um 'pasodoble'. Ponto e vírgula. Ou para que serve, essencialmente, o género musical em questão e, em especial, aquela lindíssima e vibrante música de dança de Pascual Marquina, com as suas inesquecíveis oito barras de acordes em arpejo, que vão de mi menor para fá menor e levam a sol maior, antes de voltar à coda. Ponto. Nem imaginam. Ponto, parágrafo. Nem eu lhes vou explicar: não valeria a pena gastar, nisso, o meu latim.
Evidentemente que, a um conselheiro de disciplina, não se pode exigir que saiba tudo. Que perceba tudo. E, de tudo, ainda menos. Mas, pelo menos, impõe-se que a um conselheiro (e, ainda mais, a um grupo deles) seja reclamado o permanente uso do bom senso, de quilate naturalmente diferente daquele que poderá exigir-se a um qualquer delegado da bola, de ouvidos tornados oclusos pela cegueira da censura.
Desta vez, devo confessar que, a propósito deste assunto, aproveitei para me actualizar e li, de cabo a rabo, todas as cento e quarenta e tal páginas da última versão do Regulamento disciplinar da FPF, publicada no início do passado mês de Julho. E evidentemente que, por bom senso dos autores, nada lá está escrito sobre escolhas musicais nos sistemas sonoros dos estádios. Nada se diz sobre fados, valsas, marchinhas brasileiras, mazurcas, pasodobles ou rockalhadas que, putativamente, possam ferir as delicadas sensibilidades de multidões em festa. Era só o que mais faltaria, neste clima em que a boçalidade das trevas parece prevalecer sobre as subtilezas da alegria. Também o regulamento da instituição dirigida por Fernando Gomes é, obviamente, omisso, acerca de playlists recomendadas aos clubes, ou relativamente aos indexes da execrável censura que implacavelmente tive de sofrer no exercício da minha profissão, antes do 25 de Abril.
Na minha opinião, decisões desta natureza são impuras, espúrias e não mais que sujas. Ofendem o bom senso e o pensamento livre. São mesquinhas e impróprias. Merecem indignação, repúdio e, elas, sim, castigo exemplar para juízos destes. Do alto do seu 'conselheirismo', põem-se a pensar por outros, impedindo-lhes a liberdade inócua da festa, de alegria e bom humo e, sobre o que não conhecem, julgam, mas, eles, sim, ainda impunes.
Decisões destas não só não fazem nenhuma falta à 'indústria' do futebol como são exemplarmente próprias do espírito censório e pacóvio, que não faz falta nenhuma à sociedade portuguesa do século XXI."

José Nuno  Martins, in A Bola

1 comentário:

  1. Qualquer órgão desportivo português está entregue a escroques e delinquentes do CASHBALL e dos corruptos.

    Liga, fpfutebol, fpjudo, fppatinagem, apaf, ipdj...


    Van Helsing

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