"Confusão com o Sporting e golo que não devia no primeiro dérbi na Luz; Guttmann tirou-lhe a Taça dos Campeões
1. Andava-se por Março de 1959, o Benfica perdeu em Alvalade por 2-1 - e foi essa derrota que abriu caminho ao título que o FC Porto ganhou (no ano do caso Calabote). Sim: esse foi dérbi escaramuçado - sendo ele (que nascera 28 anos antes em Paço de Arcos), uma das suas vítimas (levado em maca para o balneário até...)
2. O Sporting já estava em vantagem - a bola saiu, Manuel Libório, o apanha-bolas que era vendedor de gelados, não lha quis dar - Ângelo correu pela pista para lha arrancar, o Libório escorregou e caiu e multidão que se acotovelava na pista buliu em ira a imprecação. Pouco depois, de falta sobre Travassos, saiu a expulsão do Ângelo - e logo houve quem o agredisse no frenesim da pista. Em sua defesa, saltou o seu defesa-direito - que levou cacetada da polícia e ficou, logo ali, estendido no chão. «Tivemos de ser nós, os jogadores do Benfica, a colocá-lo numa maca, e levá-lo para o balneário». (E sim, era ele...)
3. Era ele - o filho dos donos de um lugar de venda de frutas e hortaliças no Mercado de Paço de Arcos (que ao entrar para a escola, passara a andar quase sempre com uma pequena bola de borracha no bolso dos calções). À mãe desagradava-lhe a «loucura», ao pai não - sonhava vê-lo no que foi.
4. Aos 13 anos foi, como aprendiz, para uma oficina de serralheiros mecânicos - sem deixar de se atirar, fora do trabalho, às jogatanas com os amigos. Um deles lançou-lhe desafio para formarem um clube. Chamaram-lhe Os Onze Unidos de Paço de Arcos - as quotas era feitas à mão, os equipamentos comprados com o dinheiro que de dava para o monte.
5. Doutra vez o desafio que o amigo lhe atirou, brusco, foi diferente. «O que eu gostava era de ir para o Benfica e que tu fosses comigo para lá. Deu-lhe em troco: «Para o Benfica? Deves estar a sonhar!» Natividade trocou-lhe ao sentimento: «És um medroso. Custa alguma coisa a gente chegar lá e pedir para treinar? Até já sei o dia em que vai haver testes...»
6. No dia certo, meteram-se ambos no comboio - e apanharam o eléctrico para o Campo Grande. Recebeu-os Cândido Tavares - e, no final do teste, exclamou-lhes: «Vão já tratar de fazer a vossa inscrição à secretaria - para se estrearem no próximo jogo!» Assim chegou aos juniores do Benfica. Um ano depois, puxaram-no para as reservas (e largou a serralharia).
7. Foi para a tropa - e, estando-se já em 1951, lesão de Jacinto abriu-lhe lugar na primeira equipa do Benfica. De lá não saiu mais - e jogou (a defesa direito) a final da Taça de Portugal que o Benfica ganhou à Académica por 5-1. Na época seguinte, voltou a vencer a Taça - foi a que ficou marcada pelo golo de Rogério na última jogada (o golo que pôs o placard em 5-4).
8. À terceira final consecutiva da Taça, terceira vitória (com mais história a rasgar-se os seus pés): treinador do Benfica era Ribeiro dos Reis, treinador do FC Porto era Cândido de Oliveira - e do duelo entre fundadores de A Bola saiu resultado estonteante: 5-0 (com três golos de Arsénio - que jogava futebol, sem deixar de trabalhar na CUF como serralheiro...)
9. O seu primeiro de quatro títulos de campeão começou a apanhá-lo (na temporada de 1954/1955) no primeiro dérbi na Luz. Acabou 1-1 - e o golo do Sporting marcou-o ele, ele que nunca marcara na própria baliza e nunca mais marcaria. (Apesar disso, à saída do relvado, alguém apanhou a Costa Pereira a exclamação de que o melhor homem em campo até fora ele) Não, já não era, então, defesa direito - Otto Glória passara-o a central quando Bogalho decidiu que Félix nunca mais jogaria pelo Benfica (por atirar ao chão a camisola - encolerizado por o clube o ter multado por «comportamento incorrecto» numa jogo da Selecção).
10. A sexta Taça que venceu, recebeu-a de Américo Tomás (na sua segunda vez como PR no Jamor) - e o quarto campeonato foi com Béla Guttmann. Para a Taça dos Campeões que o Benfica ganhou ao Barcelona, fez um jogo apenas (o dos 6-2 ao Ujpest): para apostar em Germano, Guttmann quis passá-lo para a direita da defesa. «De imediato lhe disse 'mister', não jogo nessa posição há muitos anos e ser deslocado para lá não me agrada». A conversa azedou, pouco mais jogou - e para capitão do Benfica foi, então, José Águas."
António Simões, in A Bola
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