"Durante as minhas formações reforço que o que une todos os desportos colectivos é mais do que aquilo que os afasta. E afirmo desportos colectivos porque confesso que a minha curiosidade de trabalho é mais focada nos desportos colectivos do que nos individuais. E aquilo que une é o facto de nos desportos colectivos todos terem uma grande fatia de importância da liderança, dos dinâmicas e processos de grupo e dos liderados, da partilha, do alinhamento colectivo naquilo que são os resultados obtidos.
Por vezes leio algo em torno da ideia de que o futebol não é uma ciência. Creio que a grande maioria das pessoas que o afirma tem dois pontos de partida: teme que o cheiro de balneário ou a intuição que considera ser a principal razão na sua crença de se chegar à vitória seja um dia descredibilizado de modo simples; e tem dificuldade em perceber o que de facto é a ciência e acreditar que a ciência é conseguir criar uma receita para se chegar sempre ao objectivo de modo a ou b.
Existem vários campos da ciência que hoje permitem compreender e usufruir daquilo que é o espectáculo de que tanto gostamos. As ciências sociais permitem hoje aos clubes apurar melhor como criar as tais tribos tão importantes em qualquer marca que quer crescer e necessita de adeptos que estejam ligados aos clubes e até às selecções.
As ciências comportamentais permitem perceber melhor os comportamentos dos treinadores nos bancos, nas palestras, nos vídeos que são virais, exactamente porque existem bastantes pessoas interessadas em compreender os comportamentos e as reacções dos jogadores e dos treinadores que vencem mais vezes que todos os outros. Isso é ciência.
As ciências da comunicação, que permitem que cada vez mais tenhamos acesso a ângulos do jogo e despertam a curiosidade quanto aos dados indicadores existentes. As ciências médicas e do desporto, que permitem que os jogadores e as equipas hoje trabalhem mais aprofundadamente alguns detalhes. Visualizar estatísticas e jogos com outras perspectivas. E poderíamos ficar aqui vários parágrafos.
A ciência é fundamental para compreender por que um Mourinho ou um Guardiola, um Ronaldo ou Messi (parece que o português funciona com este paradigma que temos de preferir um relativamente ao outro) são tão bons hoje. E sim, a ciência dá-nos pistas sobre o talento de Messi, o talento e o trabalho árduo de Ronaldo, sobre as técnicas de motivação dos dois treinadores. E certamente estes treinadores e todos os outros deveriam levar em linha de conta a ciência, quando decidem. Porque até a intuição acaba por estar estudada, motivo pelo qual existem pessoas que tomam melhores decisões por intuição do que outras. Vezes e vezes sem conta.
O que a ciência não faz é adivinhar. E não explica tudo. Mas é claramente uma ferramenta que tem o seu lugar no futebol e noutro qualquer desporto. E que não se trata de comparar e discutir se uma decisão sobre um recrutamento deve ser analisada por parâmetros matemáticos ou humanos. Uma ajuda e é criada pela outra."
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