"O português é uma língua riquíssima mas há sempre palavras que ficam bem em qualquer texto. Adeus, saudade ou destino são algumas delas. Expressam sempre um olhar sobre uma forma lusa de olhar o mundo com melancolia. Como se encolhêssemos os ombros perante um dogma de existência de um povo.
Ontem foi dia de mais um adeus português. Desta vez, às competições europeias. Daqui a umas semanas, quando se realizaram os quartos de final da Champions, vamos ficar com saudades e soçobrar perante o destino de terem calhado em sorte a Benfica e FC Porto duas equipas inevitavelmente mais fortes.
Está a fazer 50 anos em 2018, no Maio de 1968, os estudantes de paris saíram à rua e queriam que a imaginação chegasse ao poder. Entre inúmeros slogans revolucionários, há um que terá ficado no ouvido: «Parem o mundo, eu quero descer».
Os grandes portugueses, quando negociaram os direitos televisivos, olharam cada um para os seus belíssimo umbigos: mais dinheiro, mais potencial para formar boas equipas. Olharam para o umbigo, mas a cabeça não pensou que o corpo é português, mas de vez em quando vai até ao estrangeiro. E se os outros opositores internos não forem mais fortes, não tiverem mais meios, derem mais luta, o seu próprio corpo fica mais mole, deslaça, não tem músculo. E quando pela frente lhes aparecer um gigante munido de muitas armas - leia-se equipa de classe média-alta do futebol europeu - o fado português com as tais palavras inevitáveis vai voltar.
Depois de 1968, apesar do tal pedido, o mundo não parou. Neste momento, até pode ser um sítio mal frequentado em diversos locais. Mas é o mundo. E no do futebol, sem competitividade interna, a externa é (quase) surreal."
Hugo Forte, in A Bola
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