"Por cá, não vemos o futebol a cores; vemos o futebol a três cores. E, no fim, queremos que ela tenha apenas uma. A nossa.
Mais coisa menos coisa, todos contribuímos para este clima de tensão permanente no futebol português e para a visão meio alucinada como observamos e analisamos o jogo e nos deixamos condicionar pelas rivalidades e pela atmosfera de conflituosa competição.
Um dia destes, exigiremos que os jogadores não possam tocar uns nos outros e que todos sejam obrigados a amarrar os braços de preferência atrás das costas, para evitar, do mal ou menos, que tenham, simplesmente, de os cortar.
Também passaremos a querer que o esférico (redondo, lembrem-se!...) não possa, em nenhuma circunstância, raspar sequer nutra qualquer parte do corpo que não seja as pernas ou a cabeça.
Para o tribunal do vídeo, e sobretudo para os especializados comentadores da classe dos doutores e engenheiros, o movimento dos jogadores, a velocidade da bola, os ressaltos, o capricho dos desvios, a escorregadela, nada disso conta, nada disso faz parte do mais bonito jogo do mundo.
O que interessa não é entender o jogo ou a clareza e intenção com que por exemplo se comete uma falta; o que interessa é fintar a ilusão de óptica e dissecar o pormenor, o raspão, ínfimo toque, o milímetro a mais ou a menos, à luz de centenas de repetições de imagens televisivas que apenas servem, na maioria dos casos, para azedar a discussão e confundir ainda mais o estimado ouvinte.
O que interessa não é discutir com serenidade e aceitar a dúvida dos outros como aceitamos a nossa; o que interessa não é ajudar a compreender-se quem deve ser punido por rasteirar, por agarrar, por intencional e claramente jogar a bola com a mão.
O que interessa é fazer ruído com o centímetro em fora de jogo, o último terço do pé dentro da área, o dedo mindinho da mão direita mais para a esquerda ou mais para a direita ou o toque da bola no fio do cabelo ou no pelo da barba.
O que interessa é esmiuçar o detalhe da imagem televisiva (sempre a imagem televisiva, como se ela fosse infalível e desfizesse todas as dúvidas!...), o que interessa, dizia, é esmiuçar o detalhe como se estivéssemos num laboratório a dissecar o organismo de um qualquer pequeno animal.
O jogo já não é para ser apreciado enquanto jogo mas para ser cortado à fatia com as afiadas lâminas da má-língua.
É a realidade, e saibamos aceitá-la: estamos todos a ficar um bocadinho malucos!
Ainda agora, num dos jogos do pomposamente designado Campeonato do Mundo de Clubes, e recorrendo precisamente ao tribunal do vídeo, a tecnologia que tanto se apregoa, como se ela fosse capaz de resolver tudo, levou um árbitro a assinalar, e bem, uma grande penalidade, mas a ignorar, e mal, o fora de jogo que a precedeu.
É incrível, não é?!
A verdade, infelizmente, é que já vamos tarde para nos educarmos, porque este vírus das emoções disfuncionais está no sangue destes latinos incontroláveis que somos nós, tendenciosamente capazes de passar a vida a ver a árvore sem conseguir ver a floresta.
Gostamos de conviver com esta raiva e com esta confrangedora obsessão por acusar os outros, julgar os outros, difamar os outros, condenar os outros, iludir e enganar os outros, como se fossem os outros, só os outros, os culpados dos nossos erros e insucessos.
Não vemos o futebol a cores; vemos o futebol a três cores! E, no fim, queremos que ele tenha apenas uma. A nossa.
Não há paciência!
Não é muito fácil compreender o que se passará com André Carrillo, o jovem avançado peruano que trocou o Sporting pelo Benfica. Um ano sem jogar foi suficiente para lhe sugar todo o talento que se pensava que tinha? A verdade é que ao cabo de seis meses na Luz, não há meio de Carrillo fazer qualquer diferença no futebol do Benfica. Até ao momento, e respeitando a dedicação e o profissionalismo de Carrillo, ganha o prémio de maior flop da Liga, como os italianos tanto gostam de chamar aos reforços que... não reforçam!
Gonçalo Guedes vai ser ainda melhor jogador do que é; ganhará dimensão, controlo e domínio do jogo. Mas espero que a maturidade não lhe tire o lado imprevisível e espontâneo. Ele é, de momento, essencial no jogo das águias. Sempre que sai, a equipa afunda-se; sempre que entra, a equipa cresce! Em Istambul, quando Vitória o tirou do jogo, o Benfica sofreu 2 golos e cedeu o empate; com o Nápoles, mais 2 golos, e perdeu; com o Sporting, sofreu um golo e abanou.
Apenas coincidência?
Não se vê nenhum outro guarda-redes na Europa capaz de colocar a bola (ao pé ou à mão) como o benfiquista Ederson; e também não se vê na Europa guarda-redes em melhor forma do que Rui Patrício, recentemente designados 2.º melhor guarda-redes de 2016 - e devia ter sido o primeiro -, atrás do italiano Buffon. Ederson e Patrício são dois ilustres craques da nossa Liga e isso ficou bem claro no último derby.
Afinal, ainda temos algumas coisas boas!
PS: Alguém tinha dúvidas de que CR7 ganharia a 4.ª Bola de Ouro? E alguém tem dúvidas de que vá ganhar o prémio da FIFA para melhor do mundo? Ronaldo merece tudo isso e muito mais!
(...)"
João Bonzinho, in A Bola
PS1: Inacreditável como até agora nenhum jornaleiro tenha tido a coragem de denunciar a 'fraude' dos votos em Rui Patrício na Bola de Ouro, do France Football 2016.
Dos 6 pontos que ele conseguiu, 5 foram atribuídos por um jornalista em representação de Cabo Verde (avençado, que na sua página de Facebook pessoal, não esconder o seu sportinguismo); e 1 ponto foi atribuído por outro jornalista Macaense!!!!
Onde está o reconhecimento internacional?!!!!
PS2: Em relação ao video-árbitro no Campeonato do Mundo de Clubes, é óbvio que ainda estamos numa fase experimental, e portanto é o momento para cometer erros e desenvolver protocolos para no futuro, errar menos!!!
Mas realmente, a forma como os erros foram cometidos, até parece que estão a tentar sabotar o vídeo-árbitro, à nascença!!!
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