"Entre as muitas frases que fazem parte do futebolês, há uma que me irrita solenemente. Perante um indisfarçável erro da arbitragem é comum ouvirmos a eloquência da análise equivocamente benevolente: «É um critério que se aceita.»
Ora aí está a frase ideal para tomar posição sem tomar posição. Quer dizer, o erro existe mas não é. Ou é, mas aceita-se que não seja. Afigura-se útil e oportuno expressar o princípio in dubio pro árbitro. Claro que «o critério se aceita» em função do coração clubista de quem fala ou escreve. Por vezes por favor, outras vezes por temor. Uma frase que vem mesmo a calhar como o espaço por onde passa a falta de coragem ou o instinto de sobrevivência.
Corresponde no futebol ao compulsivo «mais ou menos» com que convivemos a toda a hora. Ou ao «talvez» que... talvez seja necessário para estar bem com Deus e o diabo.
Por isso, se aceita o critério da mão ou a mão do critério, o fora-de-jogo milimétrico ou o infinitéssimo dentro-de-jogo, o toque ligeiro no adversa´rio ou a carga sem dó nem piedade, o cartão alanrajado que tanto dá para aceitar o critério do amarelo como do vermelho. E tudo dependendo do árbitro em concreto: para uns nada se aceita, para outros tudo é aceitável.
Também nos treinadores está instalada esta frase-regra. «O critério aceita-se» se o erro for a favor da sua equipa (numa versão mais apurada, o técnico dirá que «não comento a arbitragem»).
Sugiro, apesar de tudo, alguma variedade nas palavras. Usando outros «advérbios de dúvida». Além do já referido talvez, porque não porventura, quiça, se calhar, possivelmente. Enfim, critérios há muitos..."
Bagão Félix, in A Bola
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