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quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Transparência e integridade: fundamentos para a legitimidade do desporto europeu


"No cenário desportivo europeu, transparência e integridade tornaram-se condições inseparáveis para a legitimidade institucional. A transparência refere-se à visibilidade das decisões de governança, enquanto a integridade diz respeito à qualidade ética e à justiça dessas decisões. Um sem o outro é insuficiente: transparência sem integridade torna-se numa autopromoção superficial, e integridade sem transparência torna-se uma retórica não verificável. Somente quando ambos coexistem é que o desporto pode cumprir seu papel democrático e educativo na sociedade.
Por décadas, o desporto europeu operou sob a suposição de que o seu valor social era evidente e além de qualquer escrutínio. Essa crença, o chamado mito da pureza permitiu que decisões obscuras, conflitos de interesse e acesso desigual ao poder permanecessem amplamente invisíveis.
No entretanto as expectativas públicas mudaram. Hoje, o desporto recebe financiamentos públicos substanciais, depende da confiança dos contribuintes e exerce influência cultural muito além das competições. Nesse contexto, a legitimidade ética não pode ser mais presumida; precisa ser demonstrada.
Os desafios contemporâneos enfrentados pelo desporto ilustram o custo de ignorar a integridade: manipulação de resultados, troca de votos, opacidade financeira, clientelismo na governança e manipulação de eleições não são incidentes isolados, são consequências estruturais de uma supervisão fraca e de poderes discricionários.
A integridade deteriora-se, não apenas quando as regras são violadas, mas também quando as instituições são projetadas de modo que a responsabilização se torne opcional. Quando isso acontece, a confiança implode mais rápido do que pode ser reconquistada.
Por isso, a transparência deve ser operacional, e não apenas simbólica. Princípios éticos não são credíveis se não forem mensuráveis. A integridade não surge espontaneamente de valores, mas de sistemas que previnem abusos e recompensam condutas éticas. O desporto europeu precisa de mecanismos capazes de transformar ideais normativos em práticas verificáveis: prestação de contas financeira aberta, regras de governança previsíveis, participação inclusiva e responsabilização baseada em evidências.
Da mesma forma, a integridade depende da independência. Um código de conduta tem pouco valor se a sua aplicação é controlada por aqueles que podem beneficiar da sua aplicação seletiva. Uma federação não pode ser considerada confiável se as partes interessadas não têm acesso às informações necessárias para avaliar as suas ações. A transparência protege a integridade exatamente porque limita o poder arbitrário e subjuga a tomada de decisão à visibilidade pública. Assim, a transparência não é apenas administrativa; é uma salvaguarda da justiça.
Um movimento crescente na Europa, liderado pelo SIGA, defende não apenas o compromisso ético, mas também a criação de indicadores que o quantifiquem. Ao traduzir transparência e integridade em critérios objetivos, estruturas de governança visíveis, divulgação consistente das finanças, supervisão democrática, inclusão e responsabilização dos parceiros institucionais e comerciais, as organizações desportivas podem ser comparadas, avaliadas e aprimoradas ao longo do tempo. A medição transfere o debate da intenção para a evidência, do discurso político para a prática institucional.
O próximo passo na governança do desporto europeu é, assim, cultural: aceitar que a integridade não é um acessório moral, mas uma condição operacional de legitimidade. O desporto não pode reivindicar educar, incluir ou inspirar se tolerar uma gestão obscura ou privilégios que escapam ao escrutínio. Restaurar a credibilidade exige uma cultura de governança que considere a transparência não como obrigação, mas como compromisso democrático; e a integridade não como slogan, mas como salvaguarda estrutural.
Somente quando transparência e integridade funcionarem juntas, de forma visível, verificável e consistente, o desporto europeu poderá recuperar plenamente a confiança que busca representar."

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