"Pelo menos José Mourinho não errou a ordem - culpa nossa, culpa do árbitro, culpa do VAR – as duas últimas são sempre discutíveis, ainda que aceitáveis neste caso. O problema para o Benfica é que a culpa própria, na incapacidade de jogar melhor, nas substituições que desafiam a sorte, e em cima de um plantel mal construído, é muito maior do que a que pode atribuir a terceiros.
Incluindo os comentadores, já agora, que ainda vivem num país onde não há delito de opinião (mesmo da mais discutível e criticável) e que têm tanta responsabilidade no mau momento das águias como um sinal de trânsito de Mangualde na desmatação da Amazónia.
Valha a verdade que não destoa do todo do futebol português, na semana em que o FC Porto, depois da cena lamentável e indesculpável do vídeo na cabina do árbitro, vem, com o seu catequizado treinador, retomar a tese do «contra tudo e contra todos». Se é assim a ganhar quase sempre e com todos os ventos de feição, como será quando perder?
Ou em que o treinador do Sporting – menos grave, mas impossível de levar a sério - nos quer convencer de que não viu o lance de erro evidente que ditou o canto vitorioso nos Açores, sendo fácil adivinhar que lho teriam mostrado umas dez vezes antes de falar se tivesse ocorrido na baliza oposta.
Voltemos ao Benfica, que há dois meses tinha um plantel que multiplicava soluções (no tempo de Lage), há duas semanas só precisava de um ou dois retoques em janeiro e agora já carece de dois extremos, um lateral esquerdo e mais um médio. E talvez um ponta de lança, arrisco, tão pouca tem sido a confiança de Mourinho em Ivanovic e a sucessiva referência à falta de «presença» na área.
A questão mais relevante, todavia, mirando o futuro, é a do perfil a contratar, e quase tudo indica que o pensamento do novo técnico tenderá a cavar mais fundo no erro cometido segundo Bruno Lage, em que a obsessão pela dimensão física fez com que a maioria dos contratados, mais do que qualidade técnica e de tomada de decisão, tivesse obrigatoriamente de acrescentar centímetros, quilos ou aceleração, no fundo «presença física».
E assim surgiram Dedic, Obrador, Ríos, Barrenechea, Ivanovic e Lukebakio. De perfil diferente só Sudakov, não por acaso o mais talentoso. E é revelador que Mourinho já tenha pedido mais rendimento ao ucraniano e sido particularmente duro com Schjelderup, ao mesmo tempo que repete a utilização e reforça a utilidade de Barreiro, a quem faltam rudimentos para jogar a este nível.
O final do jogo frente ao Casa Pia não teve só má fortuna, ainda que tenha tido (mais ainda no autogolo de Tomás Araújo), nem óbvios erros individuais, como quando Ríos, como tantas vezes faz, se virou com a bola para o lado errado. Teve também a opção por jogadores que não acrescentam nada da pausa que se recomendava naquele momento, o que se agravou com as substituições de Sudakov e depois Pavlidis (este esgotado) e quando já não havia Barrenechea, o mais tranquilo com bola entre os jogadores do Benfica.
Com Prestianni, Barreiro, Ríos e Lukebakio (e depois Ivanovic) em campo ao mesmo tempo nenhuma equipa no mundo terá facilidade em manter a posse de bola e controlar um jogo com ela. Nem frente ao Casa Pia, a este Casa Pia, o que diz tudo."

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