"Guardiola está a criar mais uma obra de autor: Matheus Nunes pode mesmo vir a tornar-se um dos melhores da posição; teremos duas locomotivas nos corredores da Seleção
Os génios não têm por norma o dom da inteligência emocional. Depende do grau de genialidade e do contexto. Há os que roçam o inimputável, outros que fazem um esforço para se integrar minimamente nos códigos de conduta e ainda uma terceira categoria na qual se pode colocar homens como Pep Guardiola: não são propriamente dos mais amigáveis do mundo para aqueles com ele diretamente trabalham, mas que impõem a sua liderança de uma forma inequívoca por aquilo que fazem e não pelo que são. E com uma taxa de sucesso incomparável com a dos demais.
Há poucos jogadores que tenham criado relações de amizade com o treinador catalão (pelo menos de uma forma pública), mas nenhum (até mesmo Ibrahimovic) teve a ousadia de dizer que não aprendeu com ele. Ou que não se tenha tornado melhor futebolista, o que nesta indústria vale não só um ego insuflado como muitos mais milhares de euros no bolso.
O mais recente caso é o de Matheus Nunes. Quando o internacional português estava no Sporting, e depois de o Manchester City ter goleado os leões em Alvalade por 5-0, em fevereiro de 2022, foi considerado por Guardiola «um dos melhores jogadores do mundo». Em abril de 2025, e na sequência de uma época desastrosa para os elevados padrões do clube, o técnico falou sem filtro e afirmou que o futebolista formado em Alcochete «não tem a inteligência suficiente para jogar no meio», decidindo torná-lo lateral-direito.
Em condições normais teríamos um jogador ferido no orgulho e com repercussões no próprio balneário. Mas o que se verificou nos meses seguintes foi o oposto. «Ele pode ser um lateral-direito incrível porque é um médio defensivo com uma capacidade física extraordinária. Se mantiver o foco, pode tornar-se um dos melhores», disse o espanhol, há cerca de duas semanas. Quem viu o recente City-Liverpool ficou esclarecido: Matheus Nunes fez exibição fantástica, revelando um upgrade em quase tudo o que se pede num jogador de elite da sua posição – controlo dos timings de corte e ocupação dos espaços interiores, nunca ficando demasiadamente exposto no um para um. O resto já o tinha e aplicou-o com mestria: agressividade nos duelos, controlo da profundidade com uma aceleração muito acima da média e a famosa vertigem nas transições quando (e se) necessário.
Estaremos, pois, na iminência de mais uma grande transformação (um lateral completo) e com óbvio benefício para a Seleção Nacional. A convocatória de Roberto Martínez para os jogos frente a Irlanda e Arménia é esclarecedora: o jogador dos citizens não foi apresentado como médio, mas como defesa. Sem nenhum lateral canhoto ao dispor (Nuno Mendes está lesionado e o selecionador optou por não chamar mais ninguém), um dos destros que habitualmente foram adaptados ao lado contrário no passado (Nélson Semedo, Diogo Dalot e João Cancelo) vão substituir o jogador do PSG, abrindo-se aqui uma janela de oportunidade para Matheus Nunes afirmar-se por Portugal de uma forma como nunca o fez.
Continuando neste trajeto ascensional, não ficaria surpreendido se ele vier mesmo a conquistar o lugar dentro de pouco tempo e a Seleção passar a contar com duas locomotivas em ambos os corredores, potenciados pelos dois melhores treinadores do mundo (Luis Enrique e Pep Guardiola), compatriotas de Martínez. Os espanhóis nunca foram tão amigos de Portugal como agora."

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