"Estaria o adepto do Benfica disponível para esperar mais de duas horas para votar nas presidenciais, legislativas, autárquicas ou europeias?
Os adeptos do Benfica, admito-o, impressionaram-me. A forma como se mobiliozaram para estas eleições são um bom exemplo no que à capacidade de intervenção e sentido de clube diz respeito. Os adeptos do Benfica não se limitaram a bater o recorde do mundo de votantes numas eleições de clube. Eles atropelaram o anterior, reduziram a cinzas o recorde de 57 mil nas eleições do Barcelona de 2010.
Nos últimos anos, os adeptos do Benfica têm dado provas de enorme participação democrática (com destaque para as eleições e novos estatutos) sem perder o sentido crítico. É muito provável que Rui Costa vença de novo, mas os sócios vão deixar bem claro que não é um cheque em branco, pode nem ser uma avaliação positiva de mandato, é antes a confiança de que Rui Costa tem tudo para fazer melhor. E eles vão continuar democraticamente vigilantes.
Ter ouvido um sócio, numa casa do Benfica, dizer que estava há duas horas à espera para votar, justificando que «o Benfica merece tudo» fez-me sorrir. E dei por mim a pensar: estaria o mesmo sócio disponível para esperar mais de duas horas para poder eleger o próximo Presidente da República, Parlamento ou presidente de câmara? E diria «Portugal merece tudo»?
Gostaria que os portugueses votassem com o mesmo entusiasmo dos sócios do Benfica, que até já querem bater novo recorde do Mundo; gostaria que os portugueses estivessem todos disponíveis para fazer tudo por Portugal; que percebessem tanto de finanças, saúde, educação ou segurança social como de 4x3x3, opções no onze ou estratégia de jogo... Que fossem tão exigentes com o Presidente da República e Primeiro Ministro como são com o presidente e treinador do clube. Dissessem presente nos grandes desafios de Portugal como estão nos grandes jogos dos clubes; que pensassem tão alto para o futuro do país como para o futuro do clube na Europa e no Mundo; até que soubessem identificar os populistas na política como os identificam e, mesmo errando logo correm com eles, no futebol.
Gostaria também que os portugueses olhassem para Portugal como os adeptos do Sporting olham para o clube. Com fidelidade, com apoio incondicional, com resistência aos longos anos de jejum de títulos que já viveram. Gostaria que todos os portugueses olhassem para o País como os adeptos do FC Porto olham para o clube. Com sentimento de pertença, de família, de bairrismo, aguerridos e de pelo na venta quando tem de medir forças com os mais poderosos.
Não, o futebol não é o ópio do povo. O futebol mostra-nos algumas das melhores características dos portugueses e deixa-nos a desejar que se aplicassem também à política. Está no topo do mundo em termos da qualidade dos nosso profissionais. Portugal merece. Porque nós queremos e somos exigentes.
Por vezes o que parece é que é a política o ópio do povo... Adormece-o. Por organização, é um bom modelo elegermos quem nos represente. Mas é também muito saudável não abrir mão da nossa voz, sermos conhecedores e exigentes. Porque o país é nosso. Não apenas de quem elegemos. Há Há tanto a aprender com o futebol."

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