"O principal argumento para João Noronha Lopes ser eleito presidente do Benfica seria a mediocridade do ciclo-Rui Costa.
Nos quatro anos do Príncipe de Florença no cadeirão da Luz, o clube viu o Sporting saído dos escombros de Alcochete - e reerguido por Ruben Amorim - a ganhar dois campeonatos e o FC Porto intervencionado pela UEFA a conquistar um.
As águias, financeiramente pujantes, a contratarem muito e a venderem ainda mais, não foram capazes de fazer mais do que os portistas e os leões.
Ora, se a este balanço insuficiente adicionarmos a gestão danosa nas apostas e nas demissões de treinadores, a sentença pareceria unânime e pacífica: o Maestro foi um craque de bola nos pés e é um desastre de fato, óculos e gravata.
Acontece que Noronha Lopes, contra todas as minhas previsões, teve a baliza aberta e, a não mais de dois metros, cometeu a proeza de rematar por cima.
Não sei se embalado naquela alquimia entre otimismo irritante e esporádica soberba, ou se apenas por natural incapacidade comunicativa, João Noronha Lopes não soube dar o golpe de misericórdia no momento certo.
Teve Rui Costa ali aos pés, caído, desnorteado, acossado pelas polémicas do Vieirismo e pela montanha de papelada assinada sem nada ver ou saber, e não soube desmontá-lo, decifrá-lo, encostá-lo à parede e revistá-lo de cima a baixo.
Noronha permitiu ao incumbente sair vivo, e a dar sinais de conhecimento e preparação, em todos os combates televisivos. Não por mérito de Rui Costa, mas por surpreendente incapacidade do próprio Noronha.
E era fácil, era muito fácil. Diria que básico, até primário.
Não me refiro a projetos, essa palavra tão abstrata e estafada, mas apenas e só ao futebol profissional. Nenhum presidente é contestado por culpa das derrotas da equipa de natação ou por uma goleada sofrida no hóquei em patins, por mais belo e justo que seja enaltecer o ecletismo de uma instituição.
O que realmente conta, deixemo-nos de fazer de conta, são as ideias para o futebol profissional, para as infraestruturas e para as relações institucionais dentro do edifício do futebol nacional.
Aí, nesses três pilares, os spin doctors de Noronha não souberam afiar-lhe as palavras e os argumentos. A lâmina pareceu-me desajustada, descalibrada, incapaz de ferir.
Estas são as boas notícias que tenho para a candidatura de Rui Costa que, por uma diferença de cinco mil votantes e 210 mil votos (42,13% vs 30,26%), aparenta estar sossegada e segura a aguardar a vitória do próximo sábado. A vitória final.
Em certo sentido, pelos motivos supracitados, Rui Costa tem razões para isso. Mas a história não está fechada.
Se Noronha Lopes juntar ao seu bom programa, e à sua competente equipa, uma forma de falar mais convincente, mais humana, mais clara, não tomo como certo o triunfo de Rui Costa.
Vamos a mais ses.
Se Noronha corporiza parte da mudança exigida pelos simpatizantes de João Diogo Manteigas, certamente receberá uma boa parte desses 12.259 votantes (cerca de 203 mil votos).
Acredito que também os eleitores de Martim Mayer e Cristóvão Carvalho (cerca de 1600) optarão, na sua maioria, por Noronha Lopes.
Se a minha teoria política não andar longe da verdade, serão pois os saudosistas do vieirismo, e das suas más práticas, a decidir a eleição.
E aqui já não me atrevo a antecipar o que quer que seja.
Se (só mais um) em 2025, perante todos os escândalos, processos judiciais e estratagemas fiscais conhecidos, 11.816 benfiquistas acharam que ‘sim senhor, este Vieira é o homem certo’, então assumo a minha incapacidade de analisar estas almas.
A derrota do vieirismo, já agora, foi a melhor notícia saída da primeira volta. Para o Benfica e para o ar respirado no futebol português. Os esquemas mal-amanhados, as amizades perigosas e os sacos de notas para fins dúbios morreram nas urnas.
João Noronha Lopes tem a força máxima dos argumentos do seu lado para ser o próximo presidente do Benfica. Falta-lhe o lado teatral, a agilidade retórica, a comunicação afinada e ilustrada em frases simples e impactantes.
A liderança de Rui Costa tem sido um constante ato falhado. Noronha só não a capitalizará se voltar a desperdiçar um golo de baliza escancarada.
Parece-me difícil.
PS: a degenerescência do Benfica no plano internacional, amplamente exibida na mediocridade da equipa na Champions 25/26, é outro elemento a ser dissecado e capitalizado pela candidatura de Noronha Lopes. Sem mitos, aventuras ou utopias desgarradas, o Benfica tem de saber bem o que quer. Sábado fará essa escolha."

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