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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Braga e o Sheik salvador


"O Sporting de Braga troca o dinheiro e a influência de uma empresa portuguesa em dificuldades pelo dinheiro e influência dos donos do futebol mundial. A Olivedesportos pela Qatar Sports. Joaquim Oliveira por Nasser al-Khelaifi. O patrão aflito pelo Sheik salvador.
Não há surpresas nestes desenvolvimentos, que acompanham a tendência europeia de alienar as marcas desportivas numa tentativa de alavancar objectivos de sucesso local com financiamento global e orientação bem influenciada. Também não deve causar repugnância, passada a surpresa inicial, pois os fluxos de dinheiro no futebol sempre foram bastante “democráticos” e abrangentes: será uma das atividades económicas mais abertas a todo o tipo de financiadores, desde os “bicheiros” do Brasil às mafias do sul da Europa. No fim da linha, o que vale é quando a bola entra na baliza.
Nos clubes portugueses já circula há muito tempo o capital de japoneses, chineses, italianos, malteses ou brasileiros, entre outros, pelo que a abertura aos vizinhos do principal patrocinador do Benfica deve ser recebida com naturalidade. A Qatar Airways também já patrocina ou patrocinou grandes clubes europeus (Barcelona, Roma, Bayern de Munique), para lá do Paris Saint Germain, pelo que este negócio pode ser visto como um “upgrade” para o prestígio internacional do Sporting de Braga - pesando os prós e contras da associação a um país desaconselhável sob tantos pontos de vista.
O mais significativo deste golpe de mercado é, definitivamente, a confirmação da morte anunciada da Olivedesportos como grande sustentáculo dos anos dourados do futebol nacional, assinando aqui um derradeiro “excelente negócio”, porque os amigos são para as ocasiões.
A história lembrará o que fez de bem ao futebol nacional o visionário que se revelou no Mundial do México, há quase 40 anos, a carpinteirar num campo de treino esburacado os reclames dos primeiros “sponsors” da Federação. Joaquim Oliveira foi o grande patrão do futebol português, um autêntico Sheik nababo, um caso de estudo dos benefícios e malefícios da concentração dos direitos televisivos. Durante três décadas, com a Olivedesportos a engordar e os clubes a minguar, funcionou como um banco sempre disponível para crédito a dirigentes perdulários e “agarrados”, apenas a troco da extensão por cada vez mais e mais anos de contrato e dependência. Até ao dia em que o Benfica, qual placa giratória do futebol nacional, cortou o circuito ao criar a sua própria televisão, determinando o fim da concentração dos direitos e empobrecendo a oferta dos canais, o que determinou o declínio da Sport Tv e dos seus acionistas, por um lado, e a necessidade de as SAD emergentes procurarem outras fontes de financiamento, como consequência.
Agora, bem atenta à imposição política de nova concentração dos direitos da Liga Portugal, entra em força no futebol português a família beIN Sports, a empresa acusada de ter pago um bónus de 100 milhões de dólares aos dirigentes da FIFA pela atribuição da organização do Mundial de 2022 aos trolhas da mão de obra escrava…
É fazer as contas!"

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