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terça-feira, 11 de outubro de 2022

A águia voa mais alto


"Depois de treze vitórias consecutivas, o Benfica vai com dois empates, tendo tido num deles uma exibição que deixou muito a desejar e viu o seu maior rival novamente aproximar-se (e logo com uma goleada ao 2º classificado). Pelo caminho ficou o recorde de Eriksson dos quinze triunfos a arrancar a temporada. Altura para preocupação ou depressão? Nada disso. Este clube, bem como a imprensa que o segue, tem muita tendência ao oito e ao oitenta, a subir às nuvens ou às cinzas do inferno caso a bola entre ou não entre.
A verdade é que este Benfica de Schmidt continua um projeto sólido, forte e consistente. E nunca ninguém deverá dizer num clube desta estatura que há empates que sabem a vitórias, mas a maneira como a equipa se comportou contra o clube mais rico do mundo foi bastante agradável. Em mais uma grande noite europeia, o Benfica bateu-se de igual para igual contra Messi, Mbappé e Neymar e continua bem lançado para seguir em frente na maior competição de clubes na Europa.
Nos dias antes do jogo com os parisienses, as redes sociais benfiquistas debatiam que ambiente haveria no estádio, tendo em conta a invasão de "turistas" que se adivinhavam. Adeptos do futebol moderno que procuraram bilhete exclusivamente para este jogo, principalmente na ânsia de ver uma lenda do futebol mundial chamada Lionel Messi e não tanto o próprio Benfica (e o argentino não os defraudou, mostrando que aos 35 anos continua a ser o melhor jogador do mundo. Cada vez menos se mexe, mas sempre que recebe a bola nos pés, faz tudo perfeito). Mas a verdade é que a maioria dos 62.000 adeptos no estádio participaram numa grande noite, empurrando a equipa encarnada para a frente e incomodando e de que maneira os milionários da equipa francesa (um clube que sem os petro-dólares continuaria a ser modesto. É curioso recordar que há apenas 10 anos, em 2011, o Benfica jogou com este PSG para a Liga Europa e nem 30.000 apareceram no estádio). Há um feedback engraçado que confirma o bom ambiente: ir ao YouTube ver os vlogs dos adeptos franceses que vieram a Portugal e ouvir o que dizem no final do jogo. Há um que refere inclusive que já foi a vários estádios na Europa e que o que viu no Estádio da Luz entra facilmente para um top-3.
Um dos destaques foi o jovem central António Silva. Custa a acreditar como só tem 18 anos e como se está a impor desta maneira. Arrisco-me a dizer que se ele for isto tudo, é um fenómeno. Mas não deixo de sentir preocupação com o hype que se está a criar à volta de um miúdo com meia-dúzia de jogos nos seniores. É bom que ele seja forte mentalmente, porque este clima de elogios na imprensa vai virar ao contrário assim que ele tiver a primeira falha. É que os rivais do Benfica já lhe fizeram mira, da mesma maneira que atacaram incessantemente Renato Sanches em 2016 ou João Félix em 2019.
É uma verdade de La Palisse dizer que todos os jogos são importantes, mas sabemos bem que há uns mais importantes que outros. E aproxima-se um encontro fundamental que pode definir a época: o jogo no Dragão. A conversa dos treinadores é que se deve pensar jogo a jogo e ainda há Rio Ave para o campeonato, PSG para a Champions e Caldas para a Taça, mas é normal que os adeptos (dos dois clubes) já comecem a ter o clássico na mente. Ver como o Benfica se comporta em Paris será importante para aferir do estofo da equipa num encontro de exigência máxima, mas o verdadeiro teste do algodão será o encontro da 10ª jornada. Em que se pode dar o caso do Benfica poder sair de lá com 6 pontos de avanço ou já atrás na classificação. Para além do resultado, será importante perceber se de facto esta é uma equipa diferente dos últimos anos, capaz de ir ao Dragão jogar sem medos e para ganhar (como fez em Turim, por exemplo) ou se se vai deixar mais uma vez enrolar na chama e na pressão do dragão.
Duas notas finais: preocupação natural com os prejuízos que o Benfica anda a apresentar, mas valide-se a estratégia de Rui Costa, focando-se no que era primordial para o clube neste momento: a aposta desportiva mais do que as contas bonitas. O clube precisava de mudar o ciclo urgentemente e isso faz-se com investimentos fortes e certeiros. E o que se planta agora, colhe-se depois. Mais lamentável é (e utilizando uma expressão que a personagem usava muito) a "feira de vaidades" que vamos assistindo por parte do último presidente do clube. Desde entrevistas a livros, procura manter-se nas luzes da ribalta, por mais que diga que já não quer mais saber do Benfica e vai revelando toda a azia que sente em relação a Rui Costa e inclusivé a sensação que até nem se importava muito que este falhasse, de modo a poder validar a ideia que no fundo ele sempre teve: que é o único capaz de conduzir o Benfica e que por isso tudo lhe deve imensa gratidão. Mas tal como os que agora estão a ser julgados em tribunal pela exposição ilegal e adulteração dos emails do Benfica, o tempo encarrega-se de colocar todos no seu lugar.
A águia voa sempre mais alto que os abutres."

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