"Muitos de nós questionam-se sobre qual a relação entre o futebol e a medicina. Falamos no domínio da compreensão.
No futebol prevalece o espírito participativo, correr, passar a bola e marcar golos, todos os elementos alinhados por um objetivo - a procura da vitória.
Na medicina predomina o procedimento interventivo, desde o nascimento até ao momento em que passamos a vida a outro.
Em ambos a presença do jogo de equipa bem treinada alcança triunfos com troféus e devolve saúde.
Poderemos dizer que nos preocupa mais o bem da equipa do que colaborar em maus exemplos, para os jovens e para a sociedade.
O importante é defendermos concepções com uma sustentação moral consistente, compreendendo os motivos e as causas de os acontecimentos mudarem. É na base deste princípio que aqui desfiarei nas próximas semanas alguns pensamentos.
O desporto português em geral e o futebol em particular atravessam um momento de euforia directamente relacionado com o notório aumento das capacidades e competências dos seus principais protagonistas – atletas e treinadores. Os títulos, o acesso a fases finais das provas mais importantes e a exportação de dezenas e dezenas de atletas, técnicos e até directores de reconhecido talento têm contribuído para uma excelente visibilidade e uma óptima notoriedade do desporto-rei entre nós.
No caso do futebol, o tema a que mais vezes me dedicarei neste espaço, não menosprezo a relevância dos dirigentes, não me alheio do sacrifício dos árbitros, não ignoro o papel complexo mas determinante dos empresários e, claro, destaco com admiração o investimento dos meios de comunicação social.
Mesmo com orçamentos bem inferiores aos do G5 (campeonatos inglês, espanhol, alemão, francês e italiano) os principais clubes portugueses fazem por norma boa figura e mesmo as segundas linhas da nossa divisão principal só caem aos pés de emblemas de dimensão proporcionalmente bem superior como ainda recentemente se constatou com Vitória de Guimarães e Gil Vicente.
Ainda assim, num País que ama o futebol, subsiste uma enorme assimetria entre a qualidade dos planteis ao nível do escalão número um aliado ao problema do preço dos bilhetes, das fracas bilheteiras e de uma nada salutar e conflituosa compita entre dirigentes e responsáveis que tardam e resistem em olhar para o negócio do futebol como uma indústria consistente e com um potencial de crescimento ainda por explorar.
Sendo certo que não temos Ronaldo´s, Neymar´s e Messi´s a evoluir nos nosso relvados, o que poderia, à partida, explicar a inibição de nos pormos ao caminho para exportar o nosso futebol, não é menos verdade que jamais olhámos para os países africanos de língua portuguesa como destinos desta indústria ou para o Brasil enquanto país número um, em todo o Mundo, de acolhimento de jogadores vindos de terras de Vera Cruz.
Isto é: feitas as contas ao universo que fala língua portuguesa temos Angola (com 32 milhões de habitantes), Moçambique (31 milhões), Guiné- Bissau (2 milhões), Cabo Verde (meio milhão), São Tomé e Príncipe (220 mil), Brasil (212 milhões) e até Macau (700 mil) num total de cerca de 280 milhões de pessoas.
Se isto não é um mapa com margem de crescimento e expansão pergunto-me sobre o que mais será necessário para conjurar um objectivo que a todos deveria nortear para o sucesso generalizado a nível internacional do nossos futebol? Afinal o que faz falta para que transformemos esta indústria numa grande unidade de negócio, produtividade e atractividade da imagem global de Portugal no Mundo? Pois estou firmemente convicto de que a resposta a estas perguntas, antes dos oceanos que nos unem àqueles povos, cruza os rios deste cantinho à beira-mar estendido porque, nunca nos esqueçamos das palavras de Camões segundo as quais "fraco rei faz fraca a forte gente"."
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