"O derby começou de uma forma surpreendente e surreal. Com um contacto da BBC para uma entrevista! Que iriam ter uma equipa durante o fim-de-semana em Portugal a preparar uma reportagem sobre o derby de Lisboa, para ser transmitido no seu programa "Football Focus" e queriam ter testemunhos de fãs de ambas as equipas. Explicaram que o adepto inglês tem muito acesso à La Liga ou à Serie A, mas sabe pouco sobre a Liga Portuguesa e querem mostrar-lhes algo diferente. Até porque, diziam eles, em Inglaterra acaba por não haver um derby tão intenso numa cidade como o nosso. O mais aproximado será o de Liverpool contra Man Utd, mas acaba por ser um bocado batota, porque não são da mesma cidade.
O encontro acabou por resultar em duas horas nas imediações da Luz, na véspera do jogo, a explicar-lhes que na verdade este é um derby nacional e não local. Que se joga em todo o país, porque quase dois terços da população portuguesa torce por estes dois clubes. Que são mais de 100 anos de rivalidade iniciados em 1907, quando sete jogadores "fugiram" do Benfica para o Sporting. Que os dois estádios estão tão perto um do outro, que dá para ir a pé. E que regra geral é uma rivalidade saudável, mas que há incidentes de violência, normalmente envolvendo os ultras, um conceito que só lhes é vagamente entendível.
No dia do jogo a concentração foi às 16 horas, na Praça Centenarium, bem junto à "Eusebio statue" (como eles referiam) e lá estavam eles, de câmara em punho, deliciados a filmar as "flares" e os ultras. Gargantas afinadas e o cortejo arrancou às 17h20, com uma chegada rápida às imediações de Alvalade. A progressão tinha sido feita sobre a segunda circular, sentindo-nos nós um exército imparável e poderoso a entrar em terreno inimigo...até ao início da confusão. Stop. Bloqueio. Tempo de espera. A sensação que dá é que a polícia portuguesa tanto quer controlar que mais complica do que simplifica (já para não falar da maneira prepotente com que falam connosco, com a ameaça de violência sempre presente). A estratégia foi dividir os adeptos do Benfica em mini-caixas, mas estas só avançavam dois ou três passos a cada 10 minutos. Resultado: mais de duas horas em pé, encaixotados feito gado, à espera de podermos entrar a horas para um espetáculo para o qual pagamos 31 euros. A concentração foi feita às 17h na Luz e a entrada em Alvalade só foi alcançada às 20h35. Já o jogo decorria, portanto. Para bem da imagem da "Liga com talento", pode ser que as câmaras da BBC não se tenham apercebido disto...
Mas depois lá dentro aconteceu a magia habitual. Benfica a vencer em Alvalade é uma tradição muito bonita do futebol Português e já não surpreende quando acontece. Não é por acaso que a partir de ontem o Glorioso ficou com mais vitórias no campo do rival, em jogos para o campeonato, que o próprio clube da casa. Que nas últimas quatro deslocações, o Benfica venceu lá 3 vezes. Que nos últimos 10 clássicos em Alvalade, o Sporting só venceu uma vez.
Foi um Benfica dominador? Não, claro que não. Foi um Benfica cauteloso e recuado, a apostar na competência defensiva de Otamendi e Vertonghen quando jogam em bloco baixo e na explosão de Darwin e Everton (à falta de Rafa) quando lançados em transição e contra-ataque. Nélson Veríssimo não é um predestinado, mas percebeu que esta é a melhor forma de jogar contra Ajax, Liverpool, Sporting e brevemente Porto. Não é bonito, não é o Benfica que queremos, mas é o Benfica que podemos ter neste momento.
É sempre fantástico ganhar o derby, como tinha sido valoroso empatar em Anfield e chegar aos 1/4 de final da Liga dos Campeões, mas nada disto vai apagar o que foi (mais) uma época falhada. Temporada sem títulos tem que ser sempre um drama para o Benfica, o maior clube português.
Agora é vencer os quatro jogos até final, derrotar o FC Porto na Luz, para que estes não sejam campeões invictos e preparar a próxima época. Aparentemente com Roger Schmidt, o treinador do PSV que deixou boa imagem na Luz no início da temporada. Que seja então com ele, com um Rui Costa mais interventivo (Maestro, do que estás à espera para falar das escandalosas arbitragens que se sucedem, nos jogos do Benfica e dos seus rivais? Tazonde Rui Costa?) e com os incríveis e fantásticos adeptos do Benfica (que mais uma vez tão boa impressão deixaram em Inglaterra e que ainda ontem abafaram o covil do leão).
O Benfica é o Rei de Alvalade, mas não basta. Também tem que ser o Rei na Luz quando recebe o Porto, por exemplo, ou em todos os campos nacionais que visita e tem que continuar a ser um dos Príncipes na Europa, como demonstrou este ano.
Como se cantava ontem à saída de Alvalade: "Como o Benfica nunca houve. Nem haverá!". E que para o ano celebremos o 38."
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