"O dia estava a amanhecer, o tempo estava bom, tudo calmo, ainda não havia transito, podiam-se ouvir os pássaros, mas o Treinador Brad Wooden, do F.C. os Galáticos, estava exausto por ter passado a noite em “branco”, sem dormir, mas sobretudo pelo que se tinha passado no jogo, da véspera. Aquele acontecimento tinha-o “mandado ao tapete” e parecia que o tempo não passava, que o juiz contava os segundos, 1, 2, 3, …, e que não lhe restava qualquer força, que o ajudasse a levantar. O “soco” tinha sido poderoso, mas diferente. Não tinha sido um “uppercut” normal, qual Mike Tyson, foi muito mais forte.
“Vou ligar ao Detective Colombo” – pensou e fê-lo. Depois de lhe contar como estava, o Detective Colombo dirigiu-se rapidamente para casa do Treinador Brad Wooden, parecia o Flash Gordon. “O juiz já ia no segundo 5, será que ainda havia tempo, para ajudar o seu amigo Treinador a levantar-se, antes do KO, antes do “10”?” – pensava o Detective Colombo – “não havia tempo a perder” e decidiu começar.
“Treinador Wooden, o que se passou?” – perguntou o Detective Colombo. “Ontem, estava a dirigir um jogo, como tantos outros, e a determinada altura, reparei que um dos jogadores não estava a dar o máximo. Comecei a gritar – “corre, pressionar, …,” - mas não era isso que acontecia. Estava perto do intervalo e já no balneário, quando “perdi a cabeça” e comecei a berrar com ele. O que tinha acontecido, não dar o máximo, era inadmissível. Quando terminei de libertar toda aquela irritação, ele levantou o braço, a pedir para falar, acenei-lhe com a cabeça, como que a dizer fala e ele disse-me “coach fiz uma entorse e não consigo correr””.
“Os olhos do Treinador Wooden fecharam-se, o queixo aproximou-se do peito e os ombros para a frente e para dentro” – reparou o Detective Colombo e perguntou-lhe – “Treinador Wooden, como se sentiu?”.
“Mal, envergonhado e, passadas estas horas, é como me sinto, envergonhado. Como fui capaz de ter aquele comportamento?” – perguntava o Treinador Wooden e continuava – “o jogador treina comigo há uns anos, nunca me tinha dado qualquer motivo para “perder a cabeça” com ele, bem pelo contrário, sempre foi um exemplo. Não queria ter aquele comportamento e ao tê-lo, parecia que a intenção era a melhor, a do jogador mudar e passar a correr e pressionar, o resultado foi catastrófico”.
“Como assim?” – perguntou o Detective Colombo. “Naquele momento, no balneário, parecia que me tinha caído tudo ao chão, que as minhas pernas tinham desfalecido, que os meus joelhos tinham batido no chão e que me tinha curvado para a frente, parecia que tinha levado o maior e mais potente “uppercut” da história do boxe. Depois, durante a segunda parte, o jogo estava a decorrer, mas só pensava – “como tinha sido capaz de ter tido aquele comportamento”. A seguir, que aquele meu comportamento não reflectia quem eu desejava ser, não queria voltar a repetir aquela experiência e que necessitava de perceber o que tinha acontecido” – respondeu o Treinador Brad Wooden, que ainda se sentia como que no tapete, com o juiz a contar 5, 6, ".., mas como que os dedos a começarem a mexer-se, como que se houvesse uma ténue esperança de não sair de maca, daquele “ringue””- respondeu o Treinador Wooden.
“Como foi possível eu ter tido aquele comportamento?” – perguntou o Treinador Wooden e prosseguiu – “se o jogador afinal até estava lesionado”.
“Treinador Wooden, deixe-me contar-lhe uma história” – começou o Detective Colombo e, perante o olhar atento do treinador Wooden, continuou – “há uns anos, o meu sobrinho foi estudar para outro país e fui visitá-lo, por altura do Natal. Quando lhe perguntei o que necessitava, ele respondeu-me que necessitava de um computador para estudar. Para juntar o útil ao agradável, dada a época natalícia, pensei em oferecer-lhe o tal computador. Depois de falar com algumas pessoas locais, que me indicaram o melhor sítio para comprar um computador, dirigi-me à loja e apresentaram-me um portátil, que tinha funcionalidades que nunca tinha visto. Leitura da impressão digital, ecrã táctil e uma capacidade extraordinária. Para além disso, o preço estava muito em conta. O vendedor disse-me que aquele portátil era topo de gama e que o meu sobrinho teria computador para muitos anos.”
O Treinador Wooden ouvia o Detective Colombo atentamente, mas não estava a perceber e pensava – “o que é que esta situação tem a ver com o que me aconteceu” - mas dei o benefício da dúvida ao Detective e continuou a ouvi-lo.
“Treinador Wooden, aquele portátil era topo de gama, quando o comprei, funcionava perfeitamente, era rápido, parecia perfeito. Contudo, passados uns anos, já o meu sobrinho tinha regressado a casa, e aquele portátil passou a estar lento, depois a ter dificuldade em arrancar, a seguir a bloquear sistematicamente e, por fim, nem o conseguia ligar. O que é que terá acontecido ao computador topo de gama e que funcionava bem, para passados uns anos, começar a trabalhar mal e até deixar de trabalhar?” – perguntou o Detective Colombo.
“Provavelmente apanhou um ou mais vírus” – respondeu o Treinador Wooden e colocou uma pergunta – “o seu sobrinho foi actualizando e correndo o antivírus, para detectar e remover vírus, a firewall estava activa, para impedir a entrada de novos vírus, e o software foi sendo actualizado?”.
“Provavelmente não. Quais foram as consequências de não actualizar o antivírus, a firewall e o software, naquele portátil topo de gama?” – perguntou o Detective Colombo. “Primeiro, começou a ficar lento, depois bloqueava e por fim deixou de funcionar” – começou por dizer o Treinador Wooden, que começou a compreender a ligação da história do Detective Colombo com o que lhe tinha acontecido e disse – “já percebi”.
O Detective Colombo olhou-o como que dizendo – “força, continue” – e o Treinador Wooden disse – “O Detective Colombo está a dizer-me que a nossa mente também pode ser comparada a um computador, em alguns aspectos. Isto é, que do mesmo modo que os computadores funcionam bem com o software, a firewall e o antivírus actualizados, também podem funcionar mal, se isso não acontecer, por se poderem instalar vírus, por exemplo, que comprometam o seu funcionamento. O mesmo pode acontecer com a nossa mente, se não actualizarmos o software da forma de pensar, se não protegermos a nossa mente com “antivírus” e “firewalles”, a nossa mente poderá deixar de funcionar tão bem quanto desejaríamos e o nosso comportamento poderá não ser o que desejávamos e a, como eu, sentirmo-nos vergonha do que fizemos.”
Neste momento, o Treinador Wooden sentia-se a tirar o tronco do chão do tapete do ringue, o juiz estava a contar – “7” - ele a agarrar-se às cordas e a começar a levantar-se – “o juiz dizia 8” – e ele a tirar os joelhos do chão, e enquanto o juiz dizia – “9” – estava nova e finalmente de pé. O Treinador Wooden sentia-se renovado, mas não perdoado, nem confortável. Sentia que toda aquela situação angustiante e arrebatadora, que o tinha deixado no chão, também podia ser uma enorme oportunidade, a de aprender e, com isso, evitar aqueles comportamentos, no futuro.
Agora, sabia que tinha de falar com o jogador e com a equipa para “limpar a cara” e estava curioso por saber quais poderiam ser os vírus que se podiam instalar na mente de qualquer pessoa (treinador, jogador, professor, gestor, colaborador, pai, filho) e que podem comprometer o comportamento das pessoas, inclusive o seu comportamento, impedindo-o de ser o que desejava ser.
Repentinamente, o Treinador Wooden começou a pensar numa série de situações – “quais são os Vírus da Mente? Como se formam? Como nos podemos proteger, que antivírus e firewalles nos podem proteger desses vírus?” – e voltando à sua situação, perguntou – “Detective Colombo que vírus da mente me poderá ter levado a ter aquele comportamento, durante do jogo, e que me mandou ao “tapete”?”
Sentindo uma mudança abismal no Treinador Wooden, de alguém que estava no tapete, para uma pessoa de pé e curiosa, o Detective Colombo disse – “podemos deixar essa questão para depois do pequeno-almoço?”.
O Treinador Wooden, que nem se tinha apercebido das horas, nem tinha oferecido um café ao Detective Colombo, respondeu – “claro que sim” – e curioso com a viagem que sentia que podia estar a começar com o Detective Colombo, pensou – “que liberdade poderemos ter, se a nossa mente for sequestrada por vírus”."
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