"Um europeu que se anunciava para toda a Europa ver, passou a ser, por sortilégios inconfessáveis, um Europeu em que sete selecções jogam em casa!
1. Na sexta-feira, ao colinho de milhares de fiéis adeptos, o Benfica ultrapassou, com classe e com garra, uma aguerrida equipa do Boavista. Da Covilhã ao Bessa foi um salto imenso. Na Serra da Estrela, tão linda pintada de branco, foi uma relativa desilusão. No Bessa, ali olhando para o Douro que crescentemente seduz, foi uma mistura entre capacidade e qualidade, entre nora artística e vitalidade, entre colectivo e rasgos individuais. E, lá na frente, Carlos Vinícius voltou a brilhar. E a marcar. E a mostrar o seu faro de golo. Vi-o pela primeira vez, há anos, num jogo do Real de Massamá/Monte Abraão. Já aí me impressionou. Mas agora está a mostrar, a todos, -incluindo a alguns cépticos e a outros que eram críticos - que o Benfica fez uma aquisição ajustada e com grande potencial. Ele e Pizzi vão marcando e vão criando as condições para um Benfica liderante no âmbito interno, e por excelência, na Liga NOS. Agora, e com este ciclo infernal de jogos até ao Natal, - diria, em rigor, até no dia do jogo face ao Sporting de Braga para a Taça de Portugal - a atenção e dedicação totais têm de se centrar, na terça-feira próxima, na luta pela participação nos dezasseis avos de final da Liga Europa. O Zenit é superável. E na Luz, com o calor das bancadas, temos de agarrar a Europa. Do Bessa à Europa é, também, e nestes tempos, um salto. Tão intenso quanto imenso!
2. Há circunstâncias que nos vinculam a memórias. Falo da renúncia de Lisboa - e ao que sei também do Porto - às candidaturas de cidades anfitriãs do Europeu de 2020. Seria, escutei, um Europeu que se realizaria entre doze cidades de outros tantos países de forma a levar as grandes selecções, e logo os seus grandes nomes, a novas cidades e dos adeptos apaixonados deste futebol que nos motiva e atrai, que nos seduz e nos deslumbra. Com excepção, diga-se, destas comissões milionárias que, entre nós, atingem patamares exorbitantes! Mas após o sorteio da fase final do Europeu de 2020 direi que a renúncia de Lisboa - e também do Porto - partiu de uma meia verdade. O que vejo do sorteio é que as grandes selecções jogam em casa! Foi um sorteio à medida. Justa. A Itália joga três vezes em Roma. A Rússia duas vezes em São Petersburgo e uma em Copenhaga. E a Dinamarca três vezes em... Copenhaga. A Holanda três vezes em Amesterdão e a Inglaterra três vezes em... Londres! A Espanha três vezes em Bilbau e a Alemanha três vezes em... Munique. Como nem a Bélgica, nem a França nem Portugal tiveram candidaturas, tornaram-se, assim, e deste Europeu de comemoração, selecções visitantes! Como, aliás, a Croácia. E Baku no Azerbeijão recebe o País de Gales, a Suíça e a Turquia e Bucareste (Roménia) sabe que, por ora, verá a Ucrânia e a Áustria. Ou que Dublin receberá, também por ora, a Suécia e a Polónia. Só Budapeste (Hungria) sabe que verá um grande e decisivo jogo: o Portugal - França que no dia de São João de 2020 poderá ser determinante para as contas finais do grupo da morte - ou do amor na terminologia francesa! - que junta, por ora, Alemanha - que joga em casa! - França e o campeão da Europa em título, Portugal. E, assim, um Europeu que se anunciava para toda a Europa ver, passou a ser, por sortilégios inconfessáveis, um Europeu em que sete selecções jogam em casa! E logo têm, à partida, uma relativa vantagem! A questão, para mim, é a memória. E sei bem o que escutei. E não preciso, por ora, e graças a Deus, de nenhum remédio... para a dita memória! E sei que ela, neste sábado de Dezembro, me assaltou, na sua singeleza, no aconchego da lareira!
3. Salvo inesperados resultados e imprevistas combinações - que alguns de nós sonhamos... - a final four da Taça da Liga, em finais de Janeiro de 2020, receberá em Braga quatro equipas de uma cativante proximidade e de uma indiscutível rivalidade. Acredito que Entre Douro e Minho preencherá o lote das equipas participantes nesta competição organizada pela Liga Portugal e que integra, com toda a legitimidade, o calendário do futebol português. Futebol Clube do Porto, Sporting de Braga, Rio Ave e Vitória de Guimarães estão com pé e meio na final four. Sem que ignoremos o Chaves ou o Portimonense, o Paços de Ferreira ou o Sporting da Covilhã, ou, até, e numa combinação perfeita de resultados, Sporting e Benfica! Mas que será uma final four diferente não temos dúvidas. O que será bem estimulante e bem interessante. E com a cidade de Braga a receber muitos vizinhos, mesmo aqueles cuja proximidade é acrescida rivalidade! E levará, em termos de opinião acerca desta Taça, alguns que são críticos a rever a sua posição e outros que eram dedicados a reduzir a sua... paixão. E são estas mudanças, que não climáticas, que tornam o mundo do futebol tão interessante. De besta a bestial é um instante. Como se prova, com Jorge Jesus o minuto... noventa e dois! Terrível aqui. Bendito na Libertadores!!! Mesmo libertador, diríamos!
4. Vou falar do Ruanda. Um pequeno, pobre e martirizado Estado africano. No coração de África e com pouco mais de doze milhões de habitantes. Sujeito a uma guerra civil com milhões de mortos. Em Maio de 2018 celebrou um contrato de patrocínio com o Arsenal, pelo período de três anos, e com um valor, leio, de 35 milhões de euros para promoção turística. E assumindo que o turismo é a sua principal fonte de divisas! Agora celebrou - na passada quarta-feira - um acordo similar com o PSG. O valor é, agora, de 10 milhões de euros e o objecto é, igualmente, a promoção turística e dos produtos do Ruanda. Como li esta semana no jornal espanhol El País o «Ruanda combate a pobreza pagando futebol de luxo»! E, assim, com diferentes ajudas de Estado - do Catar ao Ruanda... - se está a construir o fair play financeiro na Europa... do futebol! Até já de África chegam... ajudas de Estados. A clubes que já são de Estados!!! E nada se diz e nada se faz!!! Por amor da Santa! Qualquer que ela seja!!!
5. Campeões do Mundo de futebol de praia. Mais um título para Portugal e mais um bonito troféu na acolhedora Cidade de Futebol. Parabéns à Federação Portuguesa de Futebol, à estrutura técnica - já sem bigode o Mário Narciso! - e aos jogadores e, neles, cumprimento efusivamente o Madjer. Como o escutei só falta uma maior visibilidade à nossa competição interna. E, logo, a chegada de Futebol Clube do Porto e do Benfica! Bom domingo!"
Fernando Seara, in A Bola
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