"Ainda espero o amor
como no ringue o lutador caído
espera a sala vazia
Lembrei-me destes versos enquanto afoitas câmaras da realização apanhavam no Estádio do Algarve os olhos vazios da desilusão, o espanto das caras afundadas nas mãos, a raiva das lágrimas de quem se vê, no dia 1 da época oficial, caído no ringue, à espera que a ofensiva acabe, a desejar o anonimato da sala vazia, por oposição àquele campo directamente televisionado para largos milhares lá nas suas casas.
São versos de um poema ao qual desavergonhadamente roubei o título para esta newsletter, que me perdoe o José Tolentino Mendonça, porque deve ser outra coisa que não o futebol que passa pela cabeça dos poetas quando sacam da folha branca e começam a juntar palavras e frases. Mas talvez lhes passe pela cabeça sentimentos tão humanos quanto a desilusão, o espanto e a raiva, coisas que o futebol tem de sobra.
Indirectamente ou não, a desilusão, o espanto e a raiva (aos quais junto a preocupação) que tantos adeptos do Sporting deverão estar a sentir neste preciso momento, 12h45 de segunda-feira, 6 de Agosto, se foi dos primeiros a abrir este texto, nasceram de um improviso, não de John Coltrane como no poema, mas sim de Marcel Keizer, que chegou à Supertaça com um onze que havia provado cerca de zero vezes durante a pré-temporada leonina. O Sporting entrou bem, mas estratégias destas não permitem erros ou falhas ou displicências na hora de visar o objectivo, neste caso, a baliza.
O resultado, 5-0 para o Benfica, não será, sejamos justos, fruto de se assumir que se tem menos armas que o adversário. Não será sequer fruto dessa nova estratégia, desse novo sistema, inédito nas últimas semanas para os jogadores do Sporting. Mas será seguramente fruto daquilo que restou quando, ao intervalo, Bruno Lage desmontou a surpresa de Keizer: o problema do Sporting não foi improvisar, foi ser obrigado a ir à pauta e não saber ler.
E assim se arranca uma temporada, com um Benfica adulto, preparado, no qual, para já, não se notam as saídas. Com um FC Porto onde ainda há mais dúvidas que certezas (e com um teste de fogo já na quarta-feira para a Liga dos Campeões, frente ao Krasnodar) e com um Sporting, de momento, afundado por uma derrota pesada e, aparentemente, sem arte ou engenho para sair de apertos e desafios como os que o Benfica lhe colocou à frente na 2.ª parte da Supertaça. E com Bruno Fernandes, o farol de talento que tantas vezes mitigava a evidência de que o Sporting é um conjunto de jogadores mas não uma equipa, de saída e sem um sucessor à vista.
O campeonato começa já na próxima sexta-feira.
(...)"
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