"A obra sociológica de Pierre Bourdieu (1930-2002) é abundante, de uma grande riqueza, intelectualmente estimulante e de uma certa complexidade. Este sociólogo foi levado a falar e a escrever sobre desporto, apresentando mesmo o que poderia ser um “programa” de investigação sobre a sociologia do desporto.
Para este sociólogo francês, o campo das práticas desportivas é o local de lutas simbólicas pelo monopólio da imposição da definição legítima da actividade desportiva: amadorismo contra profissionalismo, desporto-prática contra desporto-espectáculo, desporto distintivo de elite contra desporto popular de massa. O campo das práticas desportivas insere-se também nas lutas pela definição do corpo legítimo e do uso legítimo do corpo, lutas que envolve os treinadores, os dirigentes, os professores de educação física e outros mercadores de bens e serviços desportivos. Neste sentido, opõem-se os moralistas (o clero), os médicos (os higienistas), os educadores, os árbitros da elegância e do gosto, etc. (Bourdieu, 2002).
Segundo esta perspectiva, o desporto abre uma possibilidade quase infinita de lutas simbólicas, às quais as instituições e os grupos sociais vão se “entregar”, não apenas para as vitórias e troféus, mas, de uma forma mais “escondida”, para impor as significações particulares e distintivas ligadas aos gestos desportivos.
Para Bourdieu, a diferenciação social leva à diferenciação desportiva, opondo os “desportos chiques” e os “desportos populares”. Assim, o custo das actividades (a variável económica) não pode ser considerado como a única variável discriminatória para a prática desportiva. De uma forma geral, o desporto para “as classes superiores” é secundário. É uma forma de os círculos sociais, já unidos, se fecharam ainda mais. Se olharmos para o ténis, por exemplo, constata-se que não se procuram os parceiros de jogo pelas suas performances desportivas, mas por serem de determinadas classes sociais, ou às quais se deseja pertencer."
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