"Bruno de Carvalho (ainda) suscita o interesse do público. Por isso, os jornalistas montaram um circo mediático à porta do Tribunal do Barreiro desde domingo, mesmo não havendo nada de relevante para aí noticiar para além da detenção e dos crimes pelos quais está indiciado.
Se seguimos tão acriticamente tudo isso, não deveríamos olhar com surpresa para o ataque à Academia do Sporting em Alcochete no passado dia 15 de Maio. Hoje permite-se dizer e fazer (quase) tudo fora das quatro linhas. As fronteiras entre comportamentos reprováveis e criminosos são cada vez mais curtas.
Não terá sido inesperada a detenção de Bruno de Carvalho. É verdade que ele e o seu advogado tinham tomado algumas precauções para que tal acontecesse em forma de notificação, mostrando disponibilidade para prestar depoimento a 11 de Outubro. De nada valeu o voluntarismo. A proximidade do prazo limite para manter detidos 23 suspeitos deste processo poderá ter acelerado a decisão. Falamos de um complexo dédalo que o campo judicial sabe, como nenhum outro, construir para nele ficar irremediavelmente atado... Enquanto a investigação vai fazendo o seu (lento) caminho e os especialistas se dividem na apreciação das medidas de coação, façamos outras reflexões.
Atendamos ao registo disruptivo, muitas vezes salpicado por termos indecorosos, que os dirigentes desportivos adoptam para falar dos outros clubes, dos árbitros, dos órgãos representativos do futebol, dos jornalistas... Bruno de Carvalho permitiu-se acrescentar treinador e jogadores da própria equipa, abrindo nas redes sociais canais de comunicação que foi inundado com uma surpreendente verborreia para a qual encontrou sempre fieis leitores.
Destaquemos também as temidas claques que, em jogos de maior tensão, vão adensando o medo de confrontos incontroláveis. Várias investigações vêm provando que essas tribos, apoiadas sub-repticiamente por alguns dirigentes, estão muitas vezes associadas a práticas criminosas. Tenhamos coragem para responder a isto: para que serve uma claque? As respostas envergonhar-nos-iam, decerto.
Nesta abordagem genérica aos problemas do futebol, impõe-se também ponderar a respectiva cobertura jornalística, principalmente dos canais de TV e dos jornais desportivos. A súbita popularidade dos debates com adeptos notáveis que o já longínquo "Donos da Bola", que a SIC colocava no ar nas noites de sexta-feira, inaugurou um modo inflamado de falar do futebol. A passagem do tempo deu mais músculo a esse modo rude de discutir jogos e clubes. E, por meio desses acesos debates, foi fazendo caminho um grupo de dirigentes que chamou a si uma espécie de poder absoluto. Que se colocava também em cena nas páginas intermináveis que a Imprensa desportiva assegura aos maiores clubes.
Bruno de Carvalho e o líder da Juventude Leonina saíram ontem em liberdade do Tribunal do Criminal do Barreiro, sujeitos a apresentações diárias às autoridades na zona de residência. O juiz de instrução criminal não aplicou a medida de coação mais gravosa, porque, como explicou em comunicado, "apenas em relação à prática do crime de tráfico de estupefacientes imputado ao arguido Nuno Mendes se verificam fortes indícios resultantes dos elementos de prova". Todavia, as autoridades judiciais não parecem seguras de que o recato necessário para que as investigações prossigam com a normalidade possível esteja salvaguardo. Bruno de Carvalho está novamente no centro do espaço público (mediático) e isso pode ser muito arriscado."
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