"Estas 'janelas de transferências' como a actual, no final (ou no meio) das épocas desportivas, são geralmente a oportunidade decisiva para que o próprio adepto possa resolver definitivamente as avaliações que, do seu ponto de vista, na bancada ou no sofá, foi interiormente estabelecendo para com cada jogador, ao longo das interpretações que foi elaborando acerca da relação que o atleta mantivera com o clube do coração daquele.
Os órgãos de comunicação e o ambiente densamente mediático da actualidade desportiva propiciam a construção de perfis muitas vezes artificiais e até ilusórios, dos jogadores, perante cada um de nós. E, em especial, no mundo do futebol - modalidade mais universal e com exemplos mais notórios - o vínculo do atleta com o clube é verdadeiramente multimodal, uma vez que representa sempre um complexo conjunto de laços muito diversos.
No cumprimento do seu contrato o jogador é constantemente posso à prova ao longo de uma época e, por exemplo, nem todos conseguem prolongar os mesmos registos alcançados num ano para a época seguinte. Seja no plano formal, das relações de trabalho puras e simples, entre um trabalhador e a empresa que o contrata (aqui, por valores incomparáveis na esfera laboral comum, por períodos relativamente breves e mediante clausulados muito específicos); ou seja, no âmbito da produtividade e do rendimento individual que é potenciado (ou mais reduzido) nos contextos de equipa em jogo e em treinamentos, do apuro e da resistência psicológica que cada jogador tem de ser capaz de manter, em face de todas as incidências dos torneios que deve disputar.
Por muitos talentos técnicos e todas as capacidades de interpretação táctica que revele, o jogador nem sequer depende apenas de si próprio, porque, cumprindo os desígnios do staff técnico, tem de servir sempre prioritariamente os interesses colectivos da equipa e, a cada momento, saber conjugar a sua disponibilidade pessoal e os preceitos de defesa da sua imagem mediática, perante (o que julgo ser) o cenário altamente concorrencial em que todos os 'egos' convivem num balneário...
Para além de tudo isto e o mais que ficará por referir aqui, do muito que é contratualmente exigível a um atleta no teatro da alta competição, afinal, muitos são os que, em fim de contrato, nos brindam apenas com algumas frases feitas que sentimos terem sido sopradas pelos agentes e empresários, em statements politicamente correctos, embora bons de ouvir pelos adeptos.
Mas muito mais raros e verdadeiramente amados pelos sócios são aqueles que, hoje em dia, pela sua atitude competitiva, conseguem viver e demonstrar constantemente à bancada e ao mundo, na relva, ou no banco, e não apenas no momento da partida, uma relação sempre mais séria, mais dedicada, mais proactiva e mais profunda, com o clube que os acolheu. São estes que irão permanecer para sempre como grandes referências, no imaginário histórico da nação do Benfica."
José Nuno Martins, in O Benfica
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