"Atribuir à Rússia a organização da fase final do Campeonato do Mundo gerou alguma controvérsia. O seu posicionamento no quadro político internacional, em que assumem relevância negativa a anexação da Crimeia e os muitos atropelos aos direitos humanos (serão muitos os presos políticos no país) muito contribuiu para essa controvérsia. Dito isto e analisando de diferentes ângulos, esta mesma organização tem vindo, contudo, a revelar-se muito agradável. Como já tivemos oportunidade de referir, e queremos acentuá-lo, até por comparação com aquilo que se vive no nosso país, o convívio sem incidentes de relevo entre os muitos milhares de adeptos das mais diferentes origens, o fair play que se manifesta mas, e sobretudo, o futebol de qualidade e uma organização impecável superam o que seria expectável.
Sem inovação, alguém disse que no futebol tudo estava já inventado, o nível técnico elevado, a diversidade táctica/estratégica, as jogadas bem urdidas e também os erros comprometedores, propiciam que estejam presentes todos os factores que tornam o futebol a modalidade desportiva mais apaixonante deste nosso Mundo.
Num momento em que não estão ainda encontradas todas as equipas que passarão à segunda fase, são já visíveis confirmações, decepções e revelações. Os seleccionados francês, espanhol e brasileiro fazem jus ao seu propósito, legitimando a sua candidatura ao título, pela qualidade das individualidades, competência colectiva, dinâmica e intencionalidade do jogo apresentado. Já lideram os respectivos grupos.
A solidez e eficácia da equipa russa, não esquecendo que joga em ‘casa’, a imagem muito positiva deixada pelo México, a afirmação da Bélgica e o ressurgimento da boa escola dos Balcãs, corporizada pela Croácia, relevam a possibilidade de estes países chegarem longe na prova.
Os campeões mundial e europeu em título, Alemanha e Portugal, com resultados diferentes mas exibindo-se abaixo do esperado, aos quais se junta a Argentina, potência do futebol sul-americano mas em dificuldade para o confirmar, pelo que arrastam do seu histórico, são aqueles que menos têm correspondido com vista ao cumprimento dos seus desideratos.
Se a vida dos outros e os seus problemas a eles dizem respeito no que a Portugal concerne, cabe dizer, e numa só palavra, o que nos define: Coerência.
Somos coerentes na escolha dos jogadores, já que o grupo é de continuidade. Somos coerentes pelo discurso pragmático, objectivo e ambicioso. Somos coerentes na priorização do resultado em detrimento do espectáculo e da qualidade exibicional. Somos coerentes nos modelos tácticos adoptados – 4x4x2 pouco ortodoxo ou uma variante 4x4x3. Somos coerentes na estratégia seguida, bloco baixo e ataque rápido.
Fernando Santos trouxe-nos isso, só não vê quem não quer. Sabemos que os mais exigentes gostariam que de uma coisa pudesse resultar outra, mas sabemos também que, em muitas situações, tal não é possível.
O empate frente ao Irão e consequente apuramento para a 2.ª fase da prova, legitima a opção, que a manter-se, esperamos, possibilite a Portugal repetir o sucesso alcançado no último Europeu."
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