"Ederson
Como é que uma pessoa que faz tão pouco ao longo de 90 minutos pode ser tão desejada por meio mundo? Discutem-se as hipóteses mais estapafúrdias: um Mundial com 48 países, o fim do fora-de-jogo, penalties marcados a partir do meio campo. Não sabemos quando é a próxima jantarada de funcionários da FIFA, mas queremos recomendar que os guarda-redes possam levar um cobertor e um livrinho ou uma revista para dentro do campo.
Nélson Semedo
Excelente exibição no 50.º jogo ao serviço do Benfica. Assim sendo, se Nelson Semedo fosse vendido hoje a preço de saldo, cada presença sua em campo teria rendido ao Benfica 1 milhão de euros, ou o mesmo que 50 vitórias na fase de grupos da Liga dos Campeões, tudo isto sem o incómodo de visitar cidades como Donetsk, São Petersburgo ou Borisov e com o privilégio de ver crescer um dos melhores laterais-direitos da Europa. Podíamos falar do seu jogo interior ou do jogo exterior, já que ambos resultaram em golos do Benfica, ou podíamos até falar de um tipo de jogo que não cabe nas definições de interior ou exterior, a que chamaremos apenas ca’ganda joga. Podíamos falar do modo imperturbável como desempenhou as tarefas defensivas com e sem bola. Podíamos mencionar a sua interpretação germânica dessa mariquice a que se convencionou chamar lateral-direito-moderno. Ficasse cá mais 10 anos e seria um lateral-direito à antiga. Isso é que era.
Lindelof
Exigia-se uma resposta dos jogadores após a sequência desastrosa de derrotas e/ou más exibições em janeiro. No caso de Lindelof, isso aconteceu aos 21 minutos, no lance mais perigoso do Nacional, só que em vez de um sonoro “PRESENTE!” a resposta do sueco foi um “QUEM? ONDE? Porra, assustaram-me! Opá, desculpem, estava distraído”.
Luisão
Exibição segura. Só o vimos uma vez fora de posição, aos 26’, para celebrar o primeiro golo com os colegas. Consciente do momento frágil que a equipa atravessa, passou os 64 minutos seguintes a exigir ao árbitro que apitasse para o fim do jogo enquanto olhava para um relógio imaginário no seu pulso.
Eliseu
Eliseu sabia que para agradar no regresso à titularidade teria de surpreender os benfiquistas. E assim foi. Assim que os adeptos viram um lateral-esquerdo utilizar o pé esquerdo, um estado colectivo de perplexidade tomou conta do estádio, seguido de entusiasmo, seguido de ainda mais entusiasmo, seguido de um pouco menos de entusiasmo, que isto é o Eliseu e não convém exagerar. A sua melhor acção defensiva aconteceu quando um passe para as suas costas foi interceptado involuntariamente pelo seu calcanhar. Aos 52 minutos foi visto a pedir calma aos colegas, não porque o jogo pedisse tranquilidade mas porque os seus pulmões começaram a falhar.
Fejsa
Boa exibição, mais a defender do que a atacar. É espantoso como as suas recuperações de bola fazem lembrar a típica cena de filme de pancadaria: fulano competente em artes marciais é atacado por dois mânfios, consegue imobilizar ambos com meia dúzia de golpes certeiros, olha em redor e não vê mais ninguém, baixa a guarda, segue caminho, e logo a seguir é atropelado por um sérvio de um metro e noventa que o deixa inconsciente.
Pizzi
É um dos poucos jogadores neste plantel que precisa de menos minutos. Aceitou, e bem, ser vilipendiado por alguns assobios vindos da bancada durante a primeira meia hora. A jogada mais próxima do valor que lhe é reconhecido na construção ofensiva foi um toque de calcanhar que lançou o ataque mais perigoso do Nacional em todo o jogo. Os golos apareceram pouco tempo depois e com eles Pizzi foi renascendo: um passe esperto aqui, uma finta elegante acolá, e a capacidade de ir buscar energias que nem ele nem nós julgávamos que tivesse. Saiu aos 78 minutos com uma ovação dos adeptos, quase tão merecida como a bomba de oxigénio que o aguardava no balneário. Seria importante a BTV incluir os sinais vitais do jogador no rodapé de futuras transmissões.
Salvio
Nunca pensámos vir a dizer isto, mas uma pequena parte de nós desejou que a lesão do Salvio fosse ligeiramente mais grave.
Zivkovic
No fundo só precisava de levantar a cabeça, calibrar aquele pézinho esquerdo e esperar que os 10 indivíduos vestidos da mesma cor aparecessem para jogar com ele. 3 jogos e meio nesta liga (trezentos e poucos minutos) bastaram para confirmar que é o único sérvio em condições de explodir esta época. Como se não bastasse a qualidade dos lances ofensivos, chegou ao fim e tinha recuperado tantas bolas como Fejsa o que, pensando bem, pode vir a dar jeito. Mal podemos esperar para o ver jogar novamente, mesmo sabendo que, como tudo nesta vida, tanta expectativa irá redundar em desilusão.
Mitroglou
Não há nada a fazer. Mitroglou é um one trick pony, na medida em que se formos ao circo e o pónei não fizer o seu único truque - marcar golos - muitos de nós irão protestar, pedir o dinheiro de volta, ou até insultar o pónei. Vamos fazer assim: da próxima vez que Mitroglou não marcar golos, tentem lembrar-se disto. Não se insulta um bicho tão fofinho.
Jonas
Numa altura em que muitos de nós perdem demasiado tempo das suas vidas a discutir quem é o melhor 6, se esse 6 não daria um melhor 8, se porventura não precisaríamos de um 9.5 que conseguisse fazer as vezes de um 7.3, é importante celebrar a exibição plena de felicidade daquele que é, como foi amplamente demonstrado nas suas diferentes acções ao longo do jogo, o nosso melhor 6, 7, 8, 9, 10, e 11.
Rafa
Rui Vitória tem insistido muito em Salvio na direita e Rafa na esquerda, mas colocar o argentino em detrimento do barreirense é, nesta fase, o mesmo que ir à Fashion Week de Paris com uma mala da Cavalinho e deixar a Hermès no hotel. Rafa, indiferente a estas bacoradas, levou à letra o epíteto de suplente de luxo e contribuiu de forma prestável para a melhor jogada da partida, que resultou no terceiro golo.
Filipe Augusto
Entrou para se apresentar aos adeptos e acabou a fazer coisas erradas pelos motivos certos. A sua melhor acção em campo foi um pontapé em Salvador Agra, um daqueles futebolistas que parecem ter tido um chamamento divino para irritar adeptos do Benfica ao longo das suas carreiras. Valeu um amarelo para Filipe Augusto e alguns aplausos na bancada. Continua assim, miúdo.
Carrillo
Lembram-se daquele tipo que aparecia sempre com um amigo vosso na noite, apesar de ninguém gostar muito dele? Carrillo é esse tipo de futebolista. Tudo indica que vamos passar os próximos meses a ver estas suas aparições algures o irrelevante e o incómodo. Daqui a uns anos haveremos de atravessar a rua para evitar cumprimentá-lo.
Jokanovic
E este? Há os ex-jogadores que se mantêm em boa forma, os que acusam ligeiramente a passagem do tempo, os que desistem por completo e depois há Jokanovic, que apareceu na Luz com um visual de ex-traficante de armas tornado informador da CIA na região do Kosovo. Impecável."
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