"O Sporting perdeu ontem qualquer possibilidade de a sua equipa principal de futebol ganhar um troféu esta época ao ser derrotado no Dragão por 2-1. Ora conseguir justificar esta temporada negra com os árbitros ou com os erros dos jogadores nem a teoria das probabilidades permite. Há com certeza alguma responsabilidade do treinador. Mas até hoje não se ouviu uma única vez Jorge Jesus pedir desculpa por erros seus ou por montar mal a equipa ou o sistema para os jogos. Chegará alguma vez esse dia?
Jorge Jesus é um excelente treinador do ponto de vista técnico e táctico. Consegue tornar jogadores sofríveis em bons jogadores e torna jogadores apenas bons em excelentes. Mas do ponto de vista psicológico, Jesus é um péssimo treinador. O que disse ontem no final do jogo com o FC Porto é não só uma desculpa de mau pagador: é inadmissível para um clube que tem orgulho nos jogadores que saem da sua Academia e que os quer ver a jogar e valorizar-se na equipa principal.
E o que disse Jesus no final? Pois, que “o FC Porto na primeira parte foi melhor porque o João Palhinha não levou o guião certo para se poder enquadrar com o que estava a acontecer. Perdeu-se durante meia hora e isso foi fatal para nós. Ao intervalo recompusemos a estrutura em função do que queríamos, anulámos o FC Porto a nível ofensivo e marcámos um golo. Mas quem ganhou este jogo foi o Casillas. Fez duas grandes paradas mas ele também está lá para isso”.
Mais: “O Matheus já tinha sido lançado num jogo contra o FC Porto. Tinha o Campbell e o Bruno César lesionados e não havia muitas soluções para o lugar. É um jovem e lembro que jogámos com seis jogadores da formação, dez num total de 20 convocados. Isto paga-se. Como o caso de Palhinha”.
Estas declarações são tão graves, que num clube que se orgulha da sua formação e que fez regressar agora um conjunto de jogadores da casa que estavam emprestados para assim enfrentar a segunda volta da Liga, deviam dar direito a despedimento com justa causa. Porque estas palavras, por mais explicações que se venham agora a dar, é colocar sobre os ombros de João Palhinha a derrota no Dragão. E é dizer, preto no branco, que isto de utilizar jogadores da Academia é muito bonito mas não dá para ganhar jogos com grandes clubes e, muito menos, para conquistar troféus e campeonatos. Ora se é isto que pensa o treinador, então há aqui uma disparidade grave com o que defende o clube.
O Sporting começou por perder o jogo no Dragão não por causa de Palhinha mas por causa do onze que Jesus colocou em campo. Ao fazer alinhar Matheus Pereira na esquerda e Bryan Ruiz atrás de Bas Dost, o técnico sportinguista deu meio tempo de avanço ao FC Porto e dois golos de desvantagem. Matheus Pereira não pode ser responsabilizado por nada. Não tinha jogado praticamente na Liga e entrar num desafio desta importância não é seguramente fácil. Depois não tem nenhuma rotinas de jogar com Martin Zeegelaar, que ainda por cima é um péssimo defesa esquerdo (é de lá, aliás, que sai o centro de Corona que dá o primeiro golo ao FC Porto). Ou seja, na primeira parte, o lado esquerdo do Sporting não existiu, quer a defender, quer a atacar, e a culpa é inteirinha de Jorge Jesus. Ouviu-se o treinador dizer alguma coisa sobre isto? Nada. Zero. Ele é o maior da paróquia e quando as coisas não correm bem o problema é dos jogadores.
Sim, Palhinha interpretou mal a lei do fora de jogo no primeiro golo e deixou Soares sozinho. Mas antes da bola chegar a Soares já muita coisa estava a correr mal no Sporting, como continuou a correr durante toda a primeira parte. No segundo golo, Palhinha disputa uma bola a meio-campo com Brahimi, embrulham-se os dois, o árbitro deixa seguir, Danilo faz um lançamento em profundidade e Soares entre três jogadores do Sporting corre uns vinte metros, finta Patrício e marca. Nenhum dos três jogadores era Palhinha, mas estava lá um tal de Semedo, além de Coates e Schelotto, e ninguém conseguiu travar o brasileiro.
Vem a segunda parte e Jesus emenda a mão. Tira não o Palhinha (não foi ele o responsável de tudo, segundo Jesus?) mas Matheus Pereira (como era óbvio, mesmo antes de ter entrado em campo) e lança o Alan Ruiz. E o que acontece? O Sporting mete o FC Porto no bolso e passa a mandar de forma categórica no jogo. E as coisas ainda melhoram quando avisadamente tira Zeegelaar (já tinha visto um amarelo e só não foi para a rua por gentileza de Hugo Miguel) e mete, imaginem, um jogador da formação que nem sequer é defesa esquerdo, um tal de Ricardo Esgaio. E as coisas melhoram de novo quando aos 81 minutos, em que era preciso fazer um forcing final, tira Palhinha e mete, imaginem, outro da formação, um tal de Podence, que em dez minutos fez dois centros perigosos e ativou, juntamente com Esgaio, o lado esquerdo da equipa do Sporting.
Ora o que aconteceu na segunda parte podia ter acontecido durante todo o jogo. E só não aconteceu por responsabilidade exclusiva de um senhor que dá pelo nome de Jorge Jesus, que acha sempre que tem de inventar quando vai ao Dragão e dá-se normalmente mal (ainda todos nos lembramos dos 5-0 que o Benfica lá levou quando meteu um defesa central, um tal de David Luiz, a defesa esquerdo…). O que ontem aconteceu no Dragão não foi culpa do Palhinha. Havia outros jogadores que não deviam ter entrado em campo. O Matheus, o Zeegelaar e, já agora, o Semedo, que está nervoso e fora de forma. E houve sobretudo um senhor que decidiu quem devia jogar e como: Jorge Jesus.
Digamos que se o Sporting tem entrado com esta equipa (Patrício; Schelotto, Coates, Paulo Oliveira e Esgaio; Palhinha Adrien e Alan Ruiz; Gelson, Bas Dost e Bryan Ruiz) teria tido mais hipóteses de não sair derrotado do Dragão e muito menos de estar a perder por 2-0 ao intervalo. E já agora, se queria fazer uma surpresa, em vez do Matheus, tinha posto o Podence, que vinha altamente motivado pela conquista da Taça da Liga pelo Moreirense, em cuja final fez uma enorme exibição.
Eu não sou a favor do despedimento de Jorge Jesus. Seria um enorme erro. Jesus é um excelente treinador e ainda vai dar enormes alegrias aos sportinguistas (e bem precisados andamos). Mas pensar e falar mais nos seus erros do que nos dos jogadores ajudava. Inventar menos ajudava. Não criticar e menorizar os jogadores da formação ajudava ainda mais. Não embirrar com alguns jogadores, como o Jefferson ou o Paulo Oliveira, para colocar nos seus lugares rapazes bem menos fiáveis, então ainda ajudava muito. Que os deuses ajudem Jorge Jesus a perceber que ele próprio tem de melhorar em muitos aspectos – não nos técnico-tácticos, mas nos do discurso sobre as derrotas e na relação com os jogadores. Se isso vier a acontecer, pelo menos será possível ficarmos em terceiro lugar esta época. Fraca consolação! Mas apesar de tudo é um objectivo fundamental que dá acesso à pré-eliminatória da Champions.
PS – O presidente Bruno de Carvalho deve estar muito contente. Todos os treinadores que escolheu para o Sporting desde que assumiu o cargo estão a demonstrar que são efectivamente bons. Leonardo Jardim, depois de ter sido campeão na Grécia, lidera a liga francesa com o Mónaco, que ontem venceu o Nice por 3-0. E Marco Silva (que conquistou a Taça de Portugal para o Sporting, o último troféu do clube), que Bruno de Carvalho criticava pelas suas deficiências técnicas (…) também foi campeão na Grécia e desde que chegou ao Hull City, em Inglaterra, equipa que estava no último lugar, já empatou com o Manchester United de Mourinho (e ganhou e perdeu para a Taça da Liga) e venceu o Liverpool por 2-0 este domingo, conquistando elogios de Jürgen Klopp. Só falta mesmo Jorge Jesus ganhar alguma coisa pelo Sporting. Confiemos."
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