Últimas indefectivações

terça-feira, 27 de maio de 2014

A nossa Paula Rego

"Jorge Jesus ainda vai ganhar muitos títulos e vai perder outros tantos. É este o destino de um treinador competente. Como sabemos, será incensado nas vitórias, e como o próprio confessou, ao recordar a subida da escadaria do Jamor no ano passado, após a derrota com o V. Guimarães, será, muitas vezes, insultado. Quando se fizer o balanço, estou certo que se fará justiça.
Nas vitórias e nas derrotas, haverá uma dimensão da sua carreira que ficará para os anais da história. Passarão muitos treinadores pelo Benfica, alguns - poucos - com mais sucesso, mas nenhum será capaz de fazer das conferências de imprensa momentos como os que Jesus nos oferece. Não o digo com ironia.
Claro que o modo como Jesus fala se presta a alimentar a inspiração infindável dos humoristas, mas arrisco afirmar que nunca ninguém em Portugal falou de forma tão atabalhoada para dizer sistematicamente coisas tão acertadas. Como o próprio disse, num vídeo mítico, trata-se de 'dizer coisas certas com palavras erradas'.
O pináculo das declarações de Jesus à comunicação social foi atingido recentemente, com a referência a Paula Rego, após a vitória na final da Taça. Para Jesus, o trabalho de um treinador compara-se ao de um artista: um trabalho invisível que torna possível a criação de um todo, ao mesmo tempo, harmonioso e belo (a nota artística). Ao contrário do que pode parecer, Jesus não estava a sublinhar as virtudes da ética do trabalho. O ponto era outro: a competência de uma equipa tem necessariamente uma dose de inspiração individual, mas no essencial só muito trabalho discreto é que cria espaço para que o talento se possa revelar.
Em todo este episódio houve um lado igualmente simbólico - a visita que Jesus fez à inauguração de uma exposição de Paula Rego. Num abraço terno, ficou retratado o lado congregador e universal do Benfica. De um lado, a sofisticação de recorte pueril mas aterrador da pintura de Paula Rego; de outro, a sabedoria popular mais repleta de ensinamentos subtis de Jesus. A grandeza única do Benfica também radica nesta combinação de opostos."

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