"Meu caro Jorge Jesus:
Você pode ter mudado com o Benfica, mas o Benfica mudou muito mais consigo. A cada semana que passa a equipa é melhor, mais consistente, mais acutilante - e você deixou de ser o lunático em ebulição a olhar para ela obcecado pelo seu umbigo (Houve tempos em que o fez - e se perdeu).
Por isso sempre tive este feeling: que só se a terra passasse a rodar ao contrário é que você deixaria de ser campeão (e até acreditei que ganhasse a Liga Europa também...) - e não por capricho do destino mas por mérito seu mais do que qualquer outro.
Sabe porquê? Porque, este ano, raro foi o dia em que você não foi o que o Galeano diz que um treinador deve ser: ter a genialidade de Einstein, a subtileza de Freud, a perseverança de Gandhi e a capacidade milagreira de Jesus. (É verdade: ele, o Galeano, ao falar da capacidade milagreira não falou de nenhum Jesus, falou da Virgem de Lourdes, mas, para o caso, fica melhor o Jesus.)
Mas queria dizer-lhe mais: com essa nova faixa de campeão ao peito, você não é só o maior treinador do Benfica no século XXI, é um dos maiores da sua história.
Sim, há quem tenha ganho muito mais, mas não houve ninguém que ganhasse o que você ganhou (e pode ganhar...) apanhando um Benfica, trôpego, a cair no inferno - e um FC Porto a olhá-lo, garboso, refastelado no paraíso.
Ah! Lembrei-me de outra coisa, de ideia de poeta que nunca morre, o Drummond. Ele dizia que no futebol (e na vida) o mérito da derrota consiste em isentar o derrotado de qualquer responsabilidade na vitória - e o que você fez foi dar a Vítor Pereira esse mérito de o isentar de qualquer responsabilidade na derrota. (Sim, não tenho dúvidas: este Vítor Pereira não foi pior que Vítor Pereira campeão, bem pelo contrário, viu-se, ontem, de novo, contra o SC Braga, você é que foi melhor do que se imaginara...)
PS: Como se percebe, esta crónica tem um truque literário: tratado que ainda não sucedeu. Mas se não suceder eu continuarei a achar de Jorge Jesus (e de Vítor Pereira) tudo isso na mesma..."
António Simões, in A Bola
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