"Há quem consiga encontrar problemas em todas as soluções, assumindo as dores presentes, os prantos estridentes e os agouros videntes. Agem como se a sua voz fosse a que no Coro da Tragédia Clássica inspirava a catarse feita de horror e piedade.
Recentemente, carpiram-se dores e anunciaram-se desgraças pelas colunas de opinião, porque o nosso Benfica ficaria uns meses sem Luisão. O problema gritava-se na orfandade de uma defesa, no consequente descalabro do meio-campo, na impossibilidade de sucesso do ataque e (só faltou dizerem isso mesmo!) expandir-se-ia até ao esmorecimento do público. Anunciava-se o sofrimento e a catástrofe.
No entanto, a solução chegou, veio de dentro do plantel, sob a forma de uma espécie de “deus ex machina” com mais de uma época de casa e direito a preparação prévia na humilde equipa B. Jardel foi solução e trouxe novas e diferentes valências para a defesa, acabando por se impor naturalmente como mais uma opção válida. Ou seja, contrariando as vozes da tragédia anunciada, encontrou-se mais uma peça angular para a equipa. Como resultado, o coro trágico regressou para dizer que, afinal, nesta solução reside um novo problema: o de ter de escolher apenas dois de um grupo de três excelentes futebolistas.
Chegados a este ponto, observamos que a presença da solução equivale à falta de alimento para crónicas e perorações de quem vive à custa de crises alheias. Logo, há que criar crises sucessivas, provocá-las, espicaçá-las e promovê-las. Apenas assim vão ganhando o sustento. Os ditos inventores de problemas transformam-se numa espécie de relógios parados que, carpindo agoiros ao minuto, nos dizem ufanos duas vezes por dia que eles são os donos da verdade da hora certa. Ou seja, com tanta tragédia anunciada nem se apercebem de que, normalmente, são eles os principais actores de uma comédia em tom de opereta bufa."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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