"Sempre gostei de acompanhar o Tour. Desde os tempos de Anquetil até agora. Lembro-me como me regozijei com um então quase impensável 10º lugar de Alves Barbosa em 1956 e com os notáveis feitos de Joaquim Agostinho. Então socorria-me das muitas páginas que A BOLA dedicava ao Tour. A televisão era escassa e os Alpes e Pirenéus com os seus Col eram mais produto da imaginação do que da imagem visionada.
Agora que escasseiam os ídolos e abundam as suspeitas de doping e batotas, é a televisão que nos faz abraçar o Tour e tê-lo como companhia fiel em Julho. Este ano, mesmo sem Contador e A. Schleck (que, por certo, dariam um acrescido interesse desportivo), estamos perante transmissões notáveis. Superiormente realizadas, com pormenores deliciosos sobre o interior do pelotão, com imagens soberbas sobre a heterogeneidade de uma natureza pródiga em beleza. E com bons comentadores da RTP que pedem meças a todos os que por aí há no mundo do futebol.
Às vezes, ao pensar na penosidade de, para ver escassos minutos entusiasmantes de um jogo de futebol, ter de aturar a pasmaceira de todos os outros minutos feitos de letargia, tácticas sonolentas, interrupções para todos os gostos, pergunto-me como é que o desporto é cada vez mais só o futebol. E encontro uma poderosa razão que explica a diferença: no futebol a paixão de representação suplanta a vacuidade de parte do espectáculo. No ciclismo de elite acontece o inverso: a magnanimidade do espectáculo não consegue suplantar a ausência da paixão, agora que não há países ou clubes representados, mas marcas comerciais que não nos aquecem o coração."
Bagão Félix, in A Bola
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