"O Azeiteiro-da-cabeça-d'unto e Dona Constança são almas gémeas. Nem um nem outro falham festa ou festança. O Azeiteiro vai às festas mesmo sem ser convidado; e se não há motivo para festejos, ele arranja. Desde que seja para ver feliz o Palhaço. Ultimamente, ainda mais que Dona Constança, tem-se visto como parlapatão de muita festança. Talvez, na sua íntima estupidez, se convença de que é convidado pelos seus méritos histriónicos. Não é: é apenas obediente, subjugado. Um bobo de cócoras. Há dias untou de azul a sua cabeça oleosa e, respeitoso, dócil, sujeitou-se à mais tinhosa das vergonhas. Lá do alto, o Madaleno ordenava-lhe que beijasse as mãos e lambesse pescoços. E ele, sem asco, encheu de saliva todas as mãos e pescoços que lhe passaram pela frente.
O Madaleno fazia esgares de satisfação e incontinências; o Azeiteiro-de-cabeça-d'unto fazia vénias. Já não via farejar pescoços daquela forma desde a primeira edição de um filme que tinha o Marlon Brando como protagonista. E os farejadores tinham todos finais infelizes. Um ou dois imbecis, acompanhados por dois ou três intelectualmente desonestos, lavraram a teoria segundo a qual o Azeiteiro foi à Festa da Cerveja por dotes inquestionáveis e que isso é uma machadada fatal no discurso de quem lhos não reconhece. É esse o motivo porque não passam de imbecis e de intelectualmente desonestos. Não percebem a simples teoria das festas e das festanças: requerem um bufão, farsante e chocarreiro, ao qual se possa largar um grito como quem lança um matilha de cães para o ver esconder-se, por entre gargalhadas, debaixo da mesa dos bolos. O Azeiteiro-da-cabeça-d'unto presta-se a isso e a muito mais. Vocês vão ver..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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