"Se o futebol fosse uma guerra, os “fundos” da Arábia Saudita seriam a Wagner, a “empresa” de mercenários que ameaça dinamitar a paz internacional, situando-se entre o totalitarismo dos clubes e a liberdade condicionada dos jogadores, escarnecendo da ONU da bola, uma FIFA forte com os fracos e alinhada com os poderosos.
Tal como no mundo do negócio das armas e da escravidão dos povos, a Wagner saudita começou por infiltrar-se onde houvesse vazios de poder por fragilidade económica, adquirindo sucessivas posições em clubes e ligas europeias, transformados numa espécie de Donbass futebolístico, com estatuto de falsa autonomia, de maneira a tornar a indústria global dependente das diretivas e investimentos da casa Al-Saud.
Em segunda fase, lança ataques sistemáticos e corrosivos a partir da base saudita, com o aval do ditador real, através da contratação obscena de jogadores que, todos somados, podem no futuro representar uma importante parcela afectiva de talento europeu descartável.
A Arábia Saudita subsidia a constituição deste exército mercenário que funciona como uma máquina de reciclagem de excedentários, provocando alguns danos colaterais, nomeadamente a perda de sossego de dirigentes, treinadores e jogadores, que se deitam, na Europa, a rezar que na madrugada seguinte lhes caia em cima uma bomba contratual.
Os jogadores em fim de carreira, como Ronaldo ou Benzema, são as armas convencionais desta operação especial. Mas foi a ameaça atómica da ogiva Mbappé, de ultimíssima geração, que deu a este movimento o peso terrífico de que poderia não ficar pedra sobre pedra, como nos sonhos húmidos do Emir do Kremlin com as centrais nucleares ucranianas, se o próprio Kylian não fosse o único adulto na sala de comando, dando ao futebol uma vitória demolidora na batalha de Paris.
“Saudi footballship, go fuck yourself” - terá dito o francês, esticando o dedo do meio à proposta indecente congeminada na respetiva Ilha das Cobras entre os fundos da Arábia e da sua Bielorrússia, o Catar St. Germain.
Qual invasão da Ucrânia pelos terroristas russos, este ataque da Wagner saudita não tem legitimidade nem fundamento ético, social ou geográfico, não passa de um exercício abusivo do poder do dinheiro sobre a liberdade, a cultura e a tradição das nações desportivas.
Neste caso, imaginar que o eixo do interesse internacional pudesse desviar-se para a latitude de Riade é um pensamento exclusivo de Cristiano Ronaldo, à maneira dos majores-generais que nos aparecem na televisão a traçar cenários miríficos sobre as manobras gloriosas do decrépito exército soviético.
Podem “vir craques” para os Al-Hilals, Al-Nassrs e quejandos, com o mesmo critério e olho clínico com que atualmente se recruta carne para canhão nos gulags da Sibéria, ou seja, a eito e às cegas, que aquelas equipas nunca deixarão de parecer (e ser) pelotões mal amanhados de farroupilhas.
É apenas dinheiro o que move estes emergentes cavaleiros do apocalipse futebolístico, pois a Arábia Saudita não é do Futebol, tal como a Crimeia não é da Rússia.
Invadindo o mundo do futebol com os seus tanques e drones carregados de petrodólares, tornou-se uma ameaça ridícula que, quando tudo terminar, deixará somente umas dúzias de milionários e um imenso buraco e ruínas para reconstruir quando as equipas ficarem sem munições e os estádios desertos de público e minados pelo desinteresse, como acontece na China, que passou por um processo idêntico na década passada.
E, no fim de tudo, é provável que algum sheik, responsabilizado por esta insanidade, também acabe por tropeçar num varandim ou por beber chá por uma caneca enferrujada. Mas os Prigozhins da bola, sempre protegidos no grande albergue cacofónico da FIFA, não deixarão de ir enganar camelos noutras paragens."
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